ISSN 2359-5191

10/05/2000 - Ano: 33 - Edição Nº: 06 - Saúde - Faculdade de Ciências Farmacêuticas
Pesquisas organizam tabela para criar alimentos especiais

São Paulo (AUN - USP) - Estabelecer a quantidade de fenilalanina nos alimentos, criar alimentos especiais e montar uma tabela nacional que auxilie nutricionistas, médicos e pais a cuidar de crianças que possuem uma doença chamada fenilcetonúria. Esses são os objetivos de algumas pesquisas do Laboratório de Análises de Alimentos (LAA) da Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF) da USP.

"Tudo começou com um pedido da Apae, que estava tendo dificuldades em cuidar das crianças fenilcetonúricas", conta a professora Ursula Maria Lanfer Marquez, responsável pela tabela e por vários estudos na área de nutrição para fenilcetonúricos. A partir desse pedido, o LAA procurou analisar os alimentos mais úteis na alimentação infantil, aqueles que, segundo a Apae, são os preferidos pelas crianças e também os que são mais utilizados na instituição.

A fenilcetonúria é uma doença congênita que resulta da deficiência de uma substância (a fenilalanina hidroxilase) que atua como catalisadora no metabolismo da proteína fenilalanina. O excesso dessa proteína no sangue acaba afetando células no cérebro. O resultado é que as crianças que possuem fenilcetonúria, apesar de nascerem com sistema nervoso normal, desenvolvem retardo mental se não controlarem a ingestão de fenilalanina. A doença, incurável, que ocorre em 1 para cada 12 mil nascimentos, em média, é pouco divulgada e não existe um controle correto na alimentação dos indivíduos.

Se a criança não receber uma quantidade maior de fenilalanina que ela é capaz de digerir, terá uma vida normal. Porém, as dificuldades para a nutrição das crianças são muitas. Os produtos industriais quase nunca informam a quantidade de fenilalanina presente em sua fórmula, e as tabelas para produtos naturais eram feitas (até a publicação da tabela da FCF) a partir de compilações de tabelas estrangeiras. "Nossa tabela foi feita por análise e não por compilação porque não adianta pegar os dados do exterior, a nossa realidade é outra.

Resultados analíticos de alimentos naturais produzidos em outros países nem sempre correspondem à composição dos cultivados em nosso país", explica a professora. O mamão brasileiro, por exemplo, possui bem menos fenilalanina que o americano (6 mg/100g de fruto contra 20 mg), enquanto a maçã consumida no Brasil tem mais que o dobro da substância do que a americana (12mg/100g contra 5mg).

Além disso, não existem, no Brasil, alimentos específicos para fenilcetonúricos. O baixo investimento das indústrias de alimentos nesse público específico acaba sendo mais uma dificuldade na nutrição dessas pessoas. Como não existem compostos protéicos especiais, a ingestão de proteínas é mínima. O LAA está criando, para suprir essa falta, um hidrolisado protéico livre de fenilalanina. Feito à base de peixe, o produto pode ser usado de várias formas, como molho ou bolinho. O problema é encontrar uma indústria de alimentos que se interesse em produzir e distribuir o composto.

A tabela brasileira, publicada na internet no endereço http://www.fcf.usp.br/tabela , é um grande avanço no bem estar do paciente. Ela possui dados para frutas, vegetais, condimentos, cereais matinais, farinhas, salgadinhos, condimentos, sorvetes e cremes de leite. Foram analisadas diversas marcas e a quantidade da proteína em cada uma delas está especificada na tabela. Dessa forma, "o fenilcetonúrico pode comer quase tudo, observando sempre a quantidade. A dieta é menos proibitiva do que era antes da publicação da pesquisa", afirma Marquez. O próximo passo: reduzir os custos e o tempo da elaboração da tabela, para que mais alimentos sejam incluídos e para que o cardápio do paciente se expanda.

Leia também...
Agência Universitária de Notícias

ISSN 2359-5191

Universidade de São Paulo
Vice-Reitor: Vahan Agopyan
Escola de Comunicações e Artes
Departamento de Jornalismo e Editoração
Chefe Suplente: Ciro Marcondes Filho
Professores Responsáveis
Repórteres
Alunos do curso de Jornalismo da ECA/USP
Editora de Conteúdo
Web Designer
Contato: aun@usp.br