São Paulo (AUN - USP) - "As pessoas estão tratando a dor crônica da mesma maneira que tratam as dores agudas, aumentando seu sofrimento e retardando sua cura". Essa foi a conclusão a que chegou a professora Cibele Abdrucioli de Mattos Pimenta, da Escola de Enfermagem da USP, em pesquisa terminada no final do ano passado.
"A dor aguda é aquela provocada por cortes, pancadas, machucados, ou seja, ela tem uma causa", explica a professora, que continua: "A dor crônica, ao contrário, não possui uma causa, ela mesma é a doença, caracterizada por uma dor contínua, que acontece em intervalos regulares, não necessariamente associada a um machucado, como cefaléia e enxaqueca, por exemplo." O problema, de acordo com a pesquisadora, é que o tratamento de uma não se aplica ao tratamento da outra, como pensa a maioria dos que sofrem de dores crônicas. "Ao tomar essa atitude, muitos deles contribuem apenas para o prolongamento de seu quadro de sofrimento e não para a cura da doença", argumenta Cibele.
Para desenvolver sua pesquisa, a professora entrevistou 67 pessoas que sofriam de dor crônica num período de aproximadamente um ano, na cidade de São Paulo. Esses indivíduos passaram por uma dupla avaliação, no começo da pesquisa e novamente passados 6 a 15 meses do início do trabalho. O que a professora percebeu foi que essas pessoas, em momento algum, modificaram suas atitudes frente à doença, encarando-a de maneira diferente da dor aguda, fato que a levou a associar tal comportamento a aspectos culturais dos entrevistados, principalmente no que diz respeito à compreensão do problema. "Não passa pela cabeça deles, sobretudo dos homens, que a dor que eles sentem pode estar relacionada com aspectos emocionais, por exemplo", conta a pesquisadora. "O que eles fazem, como nas dores agudas, é tomar um remédio, procurar ajuda de um médico e imobilizar a parte dolorida. Só que isso não funciona", explica.
O ideal, segundo a professora, seria que os médicos, quando procurados por esses tipos de pacientes, os encaminhassem a uma equipe de saúde composta de enfermeiros, fisioterapeutas, psicólogos e outros, para que houvesse intervenções múltiplas na tentativa de curar a dor crônica. "Essa doença é causada por vários fatores e deve ser tratada por vários profissionais", diz a pesquisadora. "Mais do que isso", afirma Cibele, "deve existir um trabalho maior de reeducação da sociedade, para que ela encare essas dores como uma doença e as trate como tal". Esse "trabalho de reeducação" deve ser feito principalmente com homens e pessoas de baixa renda e escolaridade, que, na pesquisa, foram os que mais apontaram os remédios (normalmente utilizados no tratamento de dores agudas) como a solução para seus distúrbios crônicos.