São Paulo (AUN - USP) - Reta final do campeonato brasileiro, novamente mais de dois times com chances de se sagrar campeão em um torneio de tiro longo, demorado, porém emocionante no momento decisivo. No entanto, times que não têm mais nenhuma pretensão enfrentam outros que estão na briga pelo título ou aqueles que lutam para escapar do rebaixamento. E a tabela tem colocado rivais históricos no caminho de concorrentes, o que tem causado especulações de que os times estariam ‘entregando’ as partidas, para prejuízo dos arquirrivais.
Uma questão ética? O que está em jogo é a moral de cada atleta? Nada disso. É o que garante o professor André Roberto Martin, do Departamento de Geografia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH-USP). Segundo ele, “o problema está na geografia do futebol”.
Especialista em Geografia Regional, Geopolítica e fanático por futebol, o professor diz que esses problemas estão acontecendo porque “abstraíram a geografia do mapa do futebol. Em um país de dimensões continentais como é o Brasil, não é possível esquecerem que a geografia é de vital importância para resolver questões de espaço-tempo”.
E é isso que na opinião do docente vem causando sucessivos transtornos ao futebol brasileiro. “Nós temos que reorganizar o futebol brasileiro na busca de solucionar esse conflito de espaço-tempo. Não é possível um time de São Paulo jogar em uma semana em Goiás, na outra em São Paulo e dois, três dias depois, ter que estar no nordeste para outro duelo”.
Como comparação do que está acontecendo, ele cita o mito grego de Procusto. Nesse mito, o bandido Procusto, tinha em sua casa na serra uma cama de ferro, do seu exato tamanho. Convidava viajantes a se deitar nela. Se os hóspedes fossem maiores que ela, amputava os membros para caberem. Caso fossem menores, esticava-os até chegarem ao tamanho exato.
“É exatamente isso que está acontecendo. O futebol brasileiro pede outro formato, não dá para ser igual a países da Europa, que têm dimensões pequenas. Eu já estudei a situação para tirá-lo da mesmice, e algumas soluções seriam criar um campeonato nos moldes de uma Copa do Mundo e retomar o Campeonato de Seleções que existiu até a década de 60”, completa o professor André Martin.