São Paulo (AUN - USP) - Foi em meio às sensações de medo, raiva e negação de uma prisão iraniana que Roxana Saberi encontrou verdadeiros exemplos de integridade e coragem. A jornalista, que foi presa no Irã devido a acusações de espionagem,compartilhou suas experiências com o regime dos aiatolás e com as pessoas que o desafiam durante uma palestra na Escola de Comunicações e Artes (USP).
Roxana Saberi foi acusada de espionagem por causa das anotações que havia feito para um livro. Segundo ela, o tempo que passou na prisão foi, ao mesmo tempo, assustador e revelador. Por um lado, a jornalista sentiu na própria pele o que significa ser um preso político no Irã. Por outro, entrou em contato com outras prisioneiras, as quais mostraram-se corajosas e firmes em seus posicionamentos.
A palestrante narrou suas experiências na prisão, dando destaque para os métodos violentos de interrogatório. Apesar de não ter sido torturada fisicamente, Saberi, contou que era sempre mais de uma pessoa que a interrogava, e os investigadores sempre o faziam de maneira agressiva, gritando e acusando-na de ser uma espiã. Curiosamente, diz a jornalista, os inquisitores admitiram, em certo momento, que na realidade sabiam que ela não era uma espiã.
O fato se deu após a tentativa, por parte de Roxana, de conseguir sair da prisão por meio de uma confissão dos crimes que não havia cometido. Segundo a palestrante, é comum que os prisioneiros o façam e, após sua liberação, simplesmente desmintam o que disseram. Entretanto, após conhecer as outras detentas, as que continuavam firmes em suas posições e não cederam à pressão dos acusadores, a jornalista decidiu voltar atrás e negar tudo que havia dito. Por sorte, Roxana despertou uma mobilização internacional a favor de sua liberação e conseguiu ser solta.
Entre as companheiras de Roxana Saberi na prisão estavam ativistas que defendiam as minorias, tanto étnicas, quanto religiosas do Irã. Durante seu período como correspondente naquele país, a jornalista pode observar diversos exemplos da negligência do Estado para com as minorias. Numa escola visitada pela repórter, "havia", segundo ela, "goteiras, poucos livros na biblioteca, e o computador que tinha era só um monitor". A escola era frequentada por crianças de uma minoria étnica.
Mas, apesar de todas as experiências traumáticas, a jornalista confessou ter visto alguns sinais de progresso durante seu tempo no Irã. Ela diz que "o país é mais complexo e diverso do que pensamos" e que ela ficou surpresa com a abertura dos nativos quando afastados da vigilância do Estado. Segundo ela, ainda, as mulheres vem conquistando espaço na sociedade, pressionando o governo por medidas que tornem a sociedade de lá mais igualitária. Há, portanto, esperança de que a situação melhore na terra dos aiatolás.