ISSN 2359-5191

31/03/2011 - Ano: 44 - Edição Nº: 02 - Saúde - Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas
Pesquisador de Oxford defende diagnóstico para nostalgia

São Paulo (AUN - USP) - A nostalgia é uma doença? Não de acordo com a medicina. Porém, a pergunta trouxe o professor de Oxford George Rousseau ao Brasil para expor suas conclusões na palestra “Modernidade nostálgica, nostalgia do modernismo” (“Modernism Nostalgics, Nostalgia’s modernism”), ministrada no conjunto didático da filosofia e ciências sociais.

De acordo com o professor, a nostalgia saiu da agenda da medicina no início do século XX, e foi substituída por outras categorias da psicologia, como a depressão. Porém Rousseau é a favor do reconhecimento do problema, que está mais presente do que se imagina nos leitos hospitalares e diagnósticos médicos.

Médicos são pró-trauma. Essa categoria é reconhecida na sociedade moderna, mas nostalgia ainda parece ser algo metafórico, ao menos que tenha produzido algum tipo de trauma. Porém a incapacidade de se ajustar em um ambiente pode produzi-lo. “A Inglaterra, por exemplo, não é uma sociedade aberta, não é fácil se encaixar nos seus costumes e padrões”, comentou o professor. “Estou falando de integração, essa é a transformação que a nostalgia sofreu ao longo dos anos. Os médicos não sabem o que fazer com a doença da adaptação.”

Histórico
De acordo com o americano, a primeira constatação da nostalgia data de 1688 (até então não havia sequer a palavra), quando um médico sueco tratava de soldados com sintomas similares: perda de memória, de apetite, falta de sono e vontade de ir para casa. Ao regressaram para os respectivos lares, os soldados teriam enviado mensagens ao médico informando que se sentiam bem. O motivo: “O leite aqui é melhor”. Os homens, de certa forma, ficaram doentes porque as vacas, entre ambos os territórios, eram diferentes.

Os escritores românticos pensavam que tudo se tratava de saudade de casa - “homesickness”. Até perceberem que havia algo faltando, algo que nunca poderiam ter, um “lugar não específico”. Como exemplo, Rousseau cita a legenda de uma foto, tirada de um livro sobre a cidade de São Paulo, na qual uma mulher, sentada à janela, mira o horizonte perdido: “Ela tem saudade, mas não sabe do que”.

Milan Kundera, no livro “Ignorância”, mostra como em cada língua essas palavras tem um significado semântico diferente. “Nostalgia me parece algo como a dor da ignorância. Meu país está longe e eu não sei o que está acontecendo lá.” Pode-se ter nostalgia de algo que existiu, como também de algo que não existiu. A nostalgia pode ser geográfica (como no caso dos soldados), como também temporal (alguém poderia querer viver na Era Vitoriana, por exemplo).

O que aconteceu então com a saudade ao longo do século? O filósofo alemão Jaspers dedicou-se aos estudos dos casos de jovens babás que haviam cometido crimes contra os bebês. Sua conclusão foi a de que o motivo pelo qual o faziam era o de que haviam perdido a memória de casa e queriam voltar. “Amor é saudade de casa” (“Love is homesick”). Mais tarde, Freud alegou que as análises de Jaspers não tinham nenhum componente sexual, portanto nunca seriam interessantes para a psicanálise. Assim, Freud sexualizou a nostalgia.

A nostalgia de hoje
Entre 1980 e 1948 mais pessoas imigraram por motivos políticos, religiosos ou econômicos do que em qualquer outra época. Essas pessoas cruzaram oceanos em direção a um novo universo desconhecido. Eles não conhecem a língua, a cultura, nada. E a nostalgia que sentem?

Em hospitais, todos os imigrantes apresentam algum tipo de estresse ou problema psicológico. Sabemos hoje que a nostalgia está bem viva apesar de ser chamada de outra coisa (disfunção alimentar, de sono etc). Tudo é, na verdade, um problema de ajuste, adaptação.

Nos EUA, Canadá e na Europa há um grande apoio psicológico para estudantes. O professor já salvou muitos alunos da expulsão com esse diagnóstico. Não é uma questão de trauma, drogas, estupro. É uma questão de má adaptação. “Uma pessoa precisa de dinheiro, amigos, conversas. Não remédios”.

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