São Paulo (AUN - USP) - Pesquisadores do Instituto de Geociências da USP (IGc) retornaram de recente expedição no Pólo Sul. Os estudos no continente gelado foram divididos em dois: um primeiro grupo entre janeiro e fevereiro, e o segundo de fevereiro a março. A expedição conta com auxílio do Proantar (Programa Antártico Brasileiro) e CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico). A pesquisa tem duração prevista até 2013 e está sob coordenação do professor Antônio Rocha Campos.
O objetivo é a realização de análise paleoclimática (variações climáticas ao longo da história da Terra) para compreender como ocorreu a glaciação do continente antártico. O que se sabe hoje é que Antártica não esteve sempre coberta de gelo e seu processo de resfriamento foi gradual. A porção oriental do continente foi a primeira a receber glaciação de 57,8 a 36,6 milhões de anos atrás (época Eoceno), enquanto na parte oriental a glaciação é mais recente – de 36,6 a 23,7 milhões de anos (época Oligoceno). Agora resta descobrir o motivo dessa diferença.
Caminho a percorrer
A análise paleoclimática será feita a partir do estudo de materiais coletados na Antártica ocidental – mais especificamente na ilha Seymour (também conhecida como ilha Marambio) – para posterior comparação com os dados da Antártica Oriental. Essa ilha foi escolhida por conter rochas muito antigas, com evidência de glaciação. De acordo com o pesquisador e professor Paulo Roberto dos Santos, que faz parte do trabalho, os pesquisadores descreveram as rochas do local, coletaram gás metano da superfície das águas, amostras do fundo do oceano (de 10 a 20 metros de profundidade), e foraminíferos (organismos marinhos microscópicos pertencentes ao grupo dos protistas).
Todos esses elementos coletados se relacionam da seguinte maneira: atualmente, na região da ilha Seymour, há liberação de gás metano (CH4) proveniente de depósitos naturais no fundo do oceano por motivos de instabilidade como terremotos e fluxos de terra. Esse gás, quando liberado na atmosfera, causa aquecimento, de tal modo que pode derreter o gelo e até mesmo levar a desprendimento de icebergs. A intenção dos pesquisadores é descobrir se dentre os foraminíferos coletados na expedição há algum que seja biomarcador de gás metano, ou seja, algum ser vivo que marque a presença desse gás no ambiente.
Em busca de resultados
“Se os foraminíferos forem de fato biomarcadores teremos uma ferramenta para interpretar o passado, o paleoambiente. Então, na próxima etapa da pesquisa, iremos buscar por rochas antigas que contenham a presença desse marcador”, explica o professor. Assim, se forem encontrados nas rochas de milhões de anos atrás a presença de fósseis desse microorganismo poderão confirmar que houve a liberação de metano na Antártica Ocidental, o que explicaria o motivo da glaciação ter demorado mais para ocorrer naquela região.
“Pode ser que o aquecimento global pelo que passamos hoje tenha alguma relação com essa liberação de metano do fundo dos oceanos”, comenta o professor Santos. Exemplo disso foram os casos de desprendimento de icebergs da plataforma continental há alguns anos, coincidentemente próximo à liberação de metano da Antártica ocidental.
Os microorganismos foraminíferos já estão sendo pesquisados nos laboratórios do IGc. Porém, as demais amostras coletadas vão chegar em meados de abril, por se tratar de materiais delicados, que precisam de cuidados especiais durante o transporte.