São Paulo (AUN - USP) - O Instituto de Estudos Avançados da USP (IEA) em parceria com o Hospital Premier realizou a terceira mesa do ciclo temático “Idosos do Brasil: Estado da arte e desafios”. No encontro, que aconteceu no dia 29 de março, foram discutidas iniciativas que se propõem a organizar uma agenda dedicada ao idoso e traçar um plano de ação para contribuir com as políticas públicas engajadas nessa causa.
Entre os debatedores estavam Guita Grin Debert, pesquisadora da Unicamp, e Alexandre Kalache, membro da Academia de Medicina de Nova York. A discussão apoiou-se na importância de medidas voltadas aos idosos, em um cenário de crescente expectativa de vida no mundo todo. Ocorre, hoje, em inúmeros países uma nova fase de transição demográfica: o envelhecimento da população. No Brasil, o que temos é um crescente índice de pessoas senis sem condições estruturais adequadas para acolhê-las.
No encontro, articularam-se iniciativas como o projeto “Bairro Amigo do Idoso”, o concurso “O que eu estou fazendo pelos idosos” e a “Sessão Averroes”, um projeto coordenado por Victor Flusser e Luis Fernando Santoro, ambos ex-alunos da Escola de Comunicações e Artes, e o último professor da mesma.
Averroes: o diálogo através da música
O professor Santoro está há mais de dez anos a frente da experiência. A ideia é humanizar os hospitais por meio da música e proporcionar a alguns pacientes terminais (da pediatria e da geriatria) o bem-estar. “Trazer de fora um pouco de vida para dentro desses ambientes de sofrimento, mantê-los vivos até o dia da sua morte”, diz o professor.
A iniciativa de levar música a hospitais e instituições de idosos já existe em cinco países da Europa. A intenção de Flusser e Santoro é trazer para o Brasil um modelo já bem sucedido no exterior, em parceria com a Associação Européia de Músicas em Hospitais. “No Brasil tem muita coisa parecida. Esse é apenas mais um, mas tem o diferencial na ênfase ao relacionamento, na sensibilidade e na individualidade”, afirma Santoro ao explicar que se trata de um projeto de relação muito pensado. Além disso, segundo os organizadores da iniciativa, os músicos têm que ser bons músicos e há também um curso de psicologia geriátrica, necessário para o preparo psicológico dos que trabalharão com os pacientes.
O projeto não se baseia em trabalho voluntário. Segundo o modelo da Universidade de Strasburgo, o jovem sai com diploma de músico atuante em hospitais. No Brasil, a ideia é fazer um curso mais livre, mas com o mesmo compromisso. O atual anseio dos coordenadores do “Averroes brasileiro” é conquistar o apoio dos poderes públicos, para viabilizar o curso que será baseado em aulas teóricas, mas, principalmente, em horas de estágio. Na USP, onde estão tentando dar os primeiros passos, contam com a parceria de Ivan Vilela, coordenador e professor do Departamento de Música da ECA (CMU).
A ideia é que haja um processo que selecionará quem souber cantar ou tocar algum instrumento bem e quiser trabalhar nessa área. Como, não se trata de um emprego comum, trabalhar com idosos e pacientes terminais é muito mais complexo. O professor prevê uma primeira turma de, provavelmente, 30 alunos. “Estamos conhecendo os contatos e as pessoas que também possuem trabalhos na área agora”, diz Santoro. “Contamos com a colaboração de Sérgio Gomes [diretor da OBORÉ Projetos Especiais em Comunicações e Artes e também ex-aluno da ECA] que tem essa visão de articular, para colocarmos as coisas em movimento”.