ISSN 2359-5191

14/04/2011 - Ano: 44 - Edição Nº: 12 - Sociedade - Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas
Livro sobre imigração japonesa no Brasil retoma debate étnico e racial

São Paulo (AUN - USP) - “A nossa pátria é onde está a nossa terra e a nossa casa”. A frase, dita por uma senhora japonesa na televisão, foi reproduzida no prefácio do livro “Imigrantes Japoneses no Brasil – Trajetória, Imaginário e Memória”, lançado recentemente pela Edusp e que conta com a colaboração de 129 estudiosos da temática japonesa e de imigração em termos gerais.

“A ideia era elaborar um livro multidisciplinar que mostrasse a contribuição japonesa para a sociedade brasileira, encerrando assim o ciclo de atividades organizadas pela Comissão do Centenário da Imigração Japonesa da Universidade de São Paulo”, esclarece a professora Maria Luiza Tucci Carneiro, responsável pela organização da obra, junto à professora Marcia Takeushi.

“A grande preocupação foi mostrar que os imigrantes não tiveram um cotidiano tão hospitaleiro como a historiografia divulga. Trabalhavam em condições de semiescravidão e sofriam discriminação”. Assim, escancara-se na obra como que, na construção da identidade brasileira, grupos de imigrantes foram estigmatizados e postos à margem.

Artigos procuraram demonstrar a postura do estado brasileiro em relação a esses imigrantes: “Muitos japoneses acharam que vinham para o paraíso. Depois que os europeus foram embora, autoridades queriam trazer os japoneses achando que eram um povo submisso”, explicou o professor Sedi Hirano, presidente da comissão. De acordo com Tucci, desde a vinda dos grandes fluxos migratórios, ocorreram alguns focos de tensão, como no período de Getúlio Vargas, presidente que pregava a assimilação da cultura brasileira pelos imigrantes, o que significa abrir mão da identidade de origem. No período de 30 a 50, vários decretos negavam as diferenças, na tentativa de se criar uma “raça homogênea”.

Mas desde então houve um processo contínuo de integração preservando a identidade dos japoneses, o que hoje se constata pela grande presença de aspectos nipônicos na nossa cultura. “Felizmente as especificidades das culturas imigrantes resistiram, e pode-se dizer que houve uma integração positiva, e não assimilação apenas. Os japoneses e os outros grupos migratórios têm orgulho de sua identidade. Por isso podemos dizer de nossa cultura ‘hifenizada’: teuto-brasileira, ítalo-brasileira, nipo-brasileira.”, explica Tucci.

Apesar disso, para a historiadora, infelizmente ainda temos um grande legado de racismo e preconceito. “Essa é uma questão que devemos repensar nos dias atuais. Há um novo vocabulário, mas o fenômeno é o mesmo, acobertado.”

Contribuições e descobertas
Para garantir a direção multidisciplinar, os organizadores buscaram especialistas nas áreas da antropologia, sociologia, arquitetura e artes plásticas. Entraram em contato com instituições tais como o Museu de Arte Contemporânea, a Pinacoteca do Estado de São Paulo e o Museu de Arte Moderna do Rio. Além disso, para não mostrar a presença dos imigrantes apenas no Estado de São Paulo, foram atrás de colaboradores no Pará, Rio de Janeiro, Paraná e Santos. “Pela primeira vez estão reunidos em um único livro todas as contribuições.”

Como a de um ex-aluno de História, Douglas Aptekmann, que possuía uma coleção de fotos de imigrantes japoneses tiradas por seu avô, o fotógrafo alemão Theodor Preising, que veio nos anos 20 para cá. “Com isso abrimos para outro segmento que é a foto como registro da história.”

Assim, outras descobertas foram feitas no mesmo sentido: pelo arquivo do Deops/SP (Departamento Estadual de Ordem Política e Social), hoje sob a guarda do Estado de São Paulo, a equipe descobriu que durante a Segunda Guerra Mundial a polícia política invadiu casas de imigrantes suspeitos de espionagem (os taxados “súditos do eixo”) e confiscou muitos álbuns de fotografia, aos quais foram acrescentadas fotos de frente e perfil do retrato policial.

O professor Boris Kossoy, da Escola de Comunicações e Artes (ECA/USP), juntou o material de dois dos fotógrafos imigrantes ali encontrados: Kintaro Ueno e Hideo Hayashida que, segundo escreve o professor, registraram “o progresso para os que não temiam o trabalho árduo”, em meio ao preconceito e desconfiança do Estado Novo. Nas imagens, famílias inteiras reunidas vestem suas melhores roupas a fim de construir um autorretrato de sucesso.

Como se não bastasse, o livro que deveria terminar na página 599, ganhou mais 64 páginas com passaportes, fotografias e documentos do Arquivo Nacional, partes da exposição virtual “Japão, Brasil: Centenário de um Encontro”, organizada por Renata Willian Santos do Vale. Na época de organização dessa exposição, descobriu-se que os processos de naturalização estavam anexados com os passaportes dos imigrantes, dentre outros documentos. “É possível conseguir os documentos de outros fluxos migratórios. Agora vamos procurar o dos judeus que vieram durante a Segunda Guerra Mundial.” O robusto livro é apenas um começo.

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