São Paulo (AUN - USP) - Seis filmes produzidos por alunos do Departamento de Cinema, Rádio e TV da ECA (CTR) foram selecionados para participar da Mostra de Curtas de Escolas de Cinema, parte da programação do IV Festival de Cinema Espanhol de Roma.
A Mostra aconteceu no dia 14 de abril, no Instituto Cervantes, às 17h. Foram exibidos filmes de escolas da Argentina, do Brasil e da Espanha. Única representante brasileira, a ECA participou da exibição com os títulos O Muro, de Giovanna Calistro,Descompasso, de Jasmin Tenucci, Espalhadas pelo Ar, de Vera Egito, Antes que Seja Tarde, de André Queiróz, Nuvens, de Daniel Grinspum e Romance 38, de Vinícius Casimiro.
Todos os filmes foram idealizados como trabalhos de conclusão de curso (TCC), e foram elaborados entre 2007 e 2010. “A Escola entra com a infra-estrutura de equipe, câmera, luz, negativo e laboratório. Há uma verba pequena para produção, o aluno tem que eventualmente recorrer a alguma complementação por conta própria na finalização”, conta Joel Yamaji, técnico especializado de nível superior do CTR.
Produzir filmes nas universidades
A aluna Jasmin Tenucci, que se formará esse ano em Audiovisual, começou a pensar em seu trabalho em 2008, quando criou o roteiro. Seu filme, Descompasso, conta a história de Lúcia, uma mulher que entende o mundo através dos sons. Ela, assim como as pessoas que a cercam, segue na tentativa de construir relações.
“É um processo longo do roteiro até sua cópia final e você aprende muito, passa a ver as coisas de maneira diferente”, conta Jasmin. “Depois, eu, por exemplo, como diretora e roteirista, sou alimentada por questões, idéias, vontades, referências e escolhas estéticas de um determinado período da vida. Há sempre coisas que permanecem, mas em geral elas vão mutando. As paixões e interesses vão migrando, digamos assim”.
O TCC funciona de seguinte maneira: quem tem um roteiro e deseja filmá-lo apresenta um primeiro tratamento para uma banca de três professores que, ao longo de um semestre, orientam o aprimoramento do trabalho. No final do semestre, os alunos escrevem um projeto completo e uma comissão de seleção composta de professores elege quais serão produzidos pelo Departamento.
Daniel Grinspum, diretor e roteirista do filme Nuvens diz que a Universidade o apoiou tanto financeiramente quanto estruturalmente, “Porém, tive que captar um pouco de dinheiro para produção e finalização do filme”. Mas, ser um aluno prestes a se formar, com prazo para entregar seu trabalho, muda algo na produção desses filmes? “Faz parte do processo. Você precisa dar o primeiro passo para dar o segundo. Apenas passando por essa experiência de primeiro filme que você ganha bagagem para repensar o que teria feito diferente ou não”, diz Grinspum.
Nuvens narra a historia de uma menina de rua de oito anos, Luana, que vende balas no sinal de trânsito de São Paulo. Ela descobre uma maneira de fazer com que as nuvens desapareçam e tenta aplicar esse método a sua realidade.
O modelo hollywoodiano
“A Escola incentiva um modelo industrial, como o de Hollywood que é uma forma de produção mais ampla, traz várias áreas unidas”, diz Yamiji sobre o caráter dos filmes exibidos na Mostra. “Mas, talvez disso seja reflexo a ausência de estéticas fortes. O que predomina é o cinema de gênero, de fórmulas de produção. O Cinema Industrial é um código, segue um padrão, como uma segmentação gramática. A indústria produz coisas padronizadas, perde-se muito do estilo”.
Essa busca por um padrão industrial marcado por fórmulas pode intimidar a liberdade de criação, mas talvez faça parte do processo de industrialização do cinema nacional, buscando seu público, pelo menos é no que acredita Grinspum. “O fator mais óbvio para mim desse processo é a migração da estética televisiva para o cinema. Algo a principio refratário, mas que demonstra que os cineastas estão buscando um caminho com o público brasileiro, que é altamente conectado com essa estética”, afirma. “Se os nossos filmes estão atingindo um padrão industrial de qualidade estética e narrativa isso é bom. No meu ano, surgiram quatro curtas metragens, que possuíam estéticas muito diferentes entre si, mas todos de grandíssima qualidade de produção, sendo todos reconhecidos em festivais dentro e fora do país”.