São Paulo (AUN - USP) - O terrorismo é uma questão global e envolve temáticas polêmicas como segurança nacional, militarismo e religião. Seja a guerra militar repleta de seus moderníssimos aparatos bélica, seja a guerra química, dotada de “agentes nervosos”: a guerra ao terror persiste.
No final de abril deste ano, foi apresentada a nova versão de um equipamento capaz de detectar compostos utilizados em guerra química através de um biossensor. O tal aparelho móvel é conhecido como Loar³, que advém da ideia de “Lab-on-a-robot”, ou “laboratório em um robô”, na língua portuguesa. O número três indica que este é o terceiro protótipo lançado, mais evoluído, após outros dois modelos produzidos.
O projeto está em andamento desde 2008 e partiu de pesquisadores da University of Texas at San Antonio (UTSA), representados pelos professores Carlos Garcia e Arturo Ayon, em parceria com cientistas do Instituto de Química da USP (IQ), além do fundamental suporte da Office of Naval Research Global (ONR), uma organização filiada à Marinha norte-americana e que financia criações científicas fora do país. Porém, segundo o Carlos Antonio Neves, pesquisador do IQ, “o projeto não é só para eles, nós ganhamos muito com isso também. De uma solução partem outras”.
Carlos Antonio Neves, formado em química pela USP, embora também possua conhecimentos na área de eletrônica e mecânica, foi convidado por Carlos Garcia para integrar-se ao grupo no final de 2008. Foi no Loar² que Neves iniciou seu trabalho. Após um teste de conceito primitivo, do qual resultaram duas patentes, o biossensor teve sua locomoção aprimorada, feita sem fio (wireless) e à bateria, além do desenvolvimento do circuito eletrônico integrado. “O protótipo começou a ter uma cara mais comercial. Mas não é simples”, explica o químico. Os testes foram feitos na própria UTSA, após o período de seis meses em que foi criado.
A terceira e mais atualizada versão do Loar é capaz de percorrer longas distâncias e com maior autonomia, uma vez que segue as coordenadas passadas via GPS, supervisionadas através de uma câmera e controle remoto. O “robô” funciona a partir da detecção dos chamados agentes nervosos, substâncias de alta toxidade, talvez as maiores conhecidas, que agem no sistema nervoso do indivíduo, quais já foram usados na Segunda Guerra Mundial tanto pela Alemanha quanto pelos Estados Unidos e ex-União Soviética. São considerados agentes de destruição em massa, encontrados em armas militares de uso restrito, sendo que há um esforço mundial para destrui-los.
Quanto a isso, Carlos Neves conta que o fator pacífico foi um motivo crucial para aceitar o desafio. “Não sou pró-guerra. O projeto não é uma arma. Pelo contrário, visa à segurança”. O cientista alerta ainda para a possibilidade de utilizar o robô no Brasil com a finalidade de auxiliar na manutenção da segurança durante os mega eventos Copa do Mundo, em 2014, e Jogos Olímpicos, em 2016.
O terceiro “laboratório no robô” tem como suporte uma plataforma de quadriciclo sem carcaça, por cima do qual foram acrescentados os instrumentos. A vantagem é que o objeto é barato e de fácil manutenção. O biossensor funciona da seguinte maneira: o ar ambiente entra no aparelho através de um orifício e, caso haja um agente nervoso entre os gases, há uma modificação no eletrodo interno, uma vez que a subtância tóxica inibiu determinada enzima que estava até então em atividade no circuito, fazendo cessar a corrente elétrica. O aparelho sensível, que funciona como um alarme, é denominado eletroferese capilar e é capaz de identificar a natureza da substância.
Carlos Neves e seu supervisor professor Claudimir Lucio do Lago, também do IQ, responsáveis principalmente pelos circuitos eletrônicos, design, softwares e programação mecatrônica do aparelho, têm perspectivas futuras sobre o robô. A respeito do desenvolvimento de um quarto Loar, há a intenção de integrar seu sistema aos modernos e práticos Smartphones, bem como servir de base para a criação de veículos aéreos não tripulados.
Contudo, a ciência está sempre apta a evoluções. Os pesquisadores estão alertas para melhorar o funcionamento do robô em situações mais drásticas de temperatura, pressão e vibração do ambiente, além da prevenção do raqueamento de rede. “Ainda temos que aperfeiçoá-lo, não está concluído totalmente”, afirma Carlos Neves.