ISSN 2359-5191

02/05/2011 - Ano: 44 - Edição Nº: 18 - Meio Ambiente - Instituto de Química
Pesquisa do IQ estuda o impacto de nanopartículas na atmosfera
Projeto analisa a relação entre componentes da poluição e a precipitação de chuvas, além dos efeitos diretos à saúde do homem

São Paulo (AUN - USP) - Partículas contidas no ar em concentrações muitíssimo baixas e em dimensões micrométricas são o foco de um grupo de cientistas do Instituto de Química da USP (IQ). O projeto tem como objetivo coletar amostras da atmosfera e analisar quimicamente os compostos que são nocivos ao ser humano.

A pesquisa existe há 10 anos e, segundo a professora Lilian Rothschild, a idéia persistiu devido à escassez de estudo nessa particularidade atmosférica. “Há pouco trabalho científico nesta área, tanto no Brasil quanto no mundo. Não podemos deixar de lado, é um assunto de grande complexidade e importância”, comenta Lilian. “A preocupação é com a saúde pública”, acrescenta. Entre os vários compostos de interesse, os derivados dos hidrocarbonetos policíclicos aromáticos, como oxis e nitro-hidrocarbonetos, compostos orgânicos que apresentam em sua estrutura anéis aromáticos, tem sido alvo de pesquisas recentes.

A linha de pesquisa vem buscando eventos que podem ocorrer na atmosfera, decorrentes da poluição cujas fontes variam, embora todas envolvam atividades humanas. Para isto, o Instituto de Química conta com a colaboração da bióloga Gisela Umbuzeiro, professora da Unicamp, que se dedica ao estudo da atividade mutagênica dos compostos, e da meteorologista Maria de Fátima Andrade, professora do Instituto Astronomia e Geofísica da USP (IAG). “Há raras parcerias dessa natureza empenhadas em análise atmosférica”, destaca Lilian, idealizadora do Projeto.

Já foram utilizadas como objeto de análise a atmosfera de cidades industriais, altamente poluídas, e a região de túneis de grandes centros urbanos. Atualmente, há três novos experimentos em evidência. Um deles, que será iniciado no mês que vem, consiste na atualização das pesquisas realizadas com o ar dos túneis, liderada pela Prof.ª Maria de Fátima. A mudança da frota automotiva nas cidades, bem como a proliferação dos carros flex (veículos que aceitam como combustível tanto a gasolina quanto o álcool) e a popularização dos biocombustíveis são os motivos que impulsionaram a releitura.

Outra frente, bastante relevante para o estudo ecológico, embalada na onda do “mundo verde”, iniciou-se em 2008 e conta com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). O estudo está sendo feito com a atmosfera de duas cidades do interior de São Paulo: Araraquara, a cerca de 250 quilômetros da capital e Ourinhos, a 340 quilômetros. O ar coletado provém especificamente de áreas onde há ocorrência de queimadas da cana-de-açúcar e o questionamento em pauta é se os resíduos desta combustão estão relacionados ou não com o perfil de precipitação local. Em outras palavras, se estão influenciando ou irão influenciar a chuva, tanto no perímetro do próprio canavial quanto nas proximidades, em termos de volume pluvial e freqüência, buscando pela explicação da provável ligação entre os fenômenos. Apesar da prática da queima da cana-de-açúcar ter sido proibida por lei, desde 2004, em todo o Estado de São Paulo, elas continuam ocorrendo. “Toda noite ainda ocorrem queimadas, embora sejam ilegais por motivos ambientais e também sociais”, diz Rothschild.

A terceira, por sua vez, é uma análise que engloba a chamada emissão biogênica. Esta vertente está sendo conduzida pela Silvia Ribeiro de Souza, do Instituto de Botânica de São Paulo. Trata-se da avaliação dos compostos orgânicos voláteis (COVs) liberados pelas plantas e que, em contato com poluentes do ambiente, podem acarretar complicações desconhecidas pelos cientistas. Já é sabido que a reação entre os elementos contribui na formação do chamado smog fotoquímico, um fenômeno tipicamente urbano, caracterizado pela mistura de vários gases poluentes, conferindo uma coloração acinzentada ao ar. Tais episódios agravam muitas vezes problemas de saúde crônicos e mal-estar passageiros. Entretanto, a pesquisadora está se concentrando no quê exatamente os COVs representam para fenômenos atmosféricos ou, ainda, qual o valor quantitativo de sua influência.

O volume das porções analisadas varia, assim como o instrumento utilizado para coletá-lo. Um deles é denominado “impactador de cascata”, cujo sistema suga o ar analisado e, eficientemente, separa as partículas de tamanhos diferentes. Chega a ser tão pequenas que a unidade de medida é o micrômetro, equivalente a milionésima parte do metro. Outro dispositivo, chamado High vol (alto volume), funciona através de uma bomba de sucção, ligada 24 horas por dia, retendo as partículas suspensas no ar atmosférico em filtros específicos.

Porém, existem dificuldades no meio do caminho. Cada fração atmosférica captada contém em média entre quatro a cinco mil componentes. A técnica, denominada cromatografia, segue o procedimento de separação da mistura, identificação e quantificação dos componentes. Quantidades muito pequenas estão presentes na atmosfera e, muitas vezes, a unidade de massa usada é o picograma, que representa a décima segunda parte da grama, ou seja, 10−12 g.

A temática Ecologia e o impacto ambiental das ações antrópicas não é novidade na mídia. Muito pelo contrário, o tópico tem se tornado cada vez mais comum em nosso cotidiano e intrínseco ao estudo científico. “A química ambiental é a típica ciência multidisciplinar”, esclarece Lilian. A análise atmosférica química deste projeto reúne, portanto, conhecimentos das mais variadas áreas, seja biologia, física, geografia ou matemática, todas empenhadas no diagnóstico minucioso e previsão de um quadro ambiental num futuro próximo.

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