São Paulo (AUN - USP) - Ecologia e conscientização ambiental são dois temas intimamente ligados e, frequentemente, têm estado em evidência na mídia. Envolvidos pela motivação de propor novas tecnologias capazes de amenizar o impacto de substâncias químicas no meio ambiente, o Grupo de Pesquisa em Química Verde Ambiental (GPQVA), liderado pelo professor Reinaldo Bazito, desenvolve três linhas de pesquisa.
No interior dos laboratórios do IQ da USP, os cientistas formulam um solvente à base de dióxido de carbono pressurizado ou supercrítico, fluido que apresenta propriedades intermediárias entre aquelas da mesma substância em estado líquido e gasoso. As vantagens de utilizá-lo como solvente são explicados por Bazito: “O CO² é uma composto não-tóxico em baixa concentração, barato e renovável”.
O Projeto teve início no ano de 2006 e partiu do interesse por parte dos pesquisadores em desenvolver métodos de aplicação das propriedades únicas dessa substância aos estudos já em andamento na comunidade científica atual.
As três linhas de pesquisa são: formulação de tensoativos, eliminação de policiclobifenóis (PCBs) industriais e encapsulamento de fármacos. A primeira deles esforça-se em desenvolver tensoativos, substâncias que agem na superfície de contato entre dois fluidos, geralmente com o objetivo de carregá-las do meio. Em meio onde haja o gás carbônico supercrítico, a eliminação é mais eficiente, na medida em que tal composto modifica a polaridade local.
Outra vertente concentra-se em substâncias conhecidos como policlorobifenóis (PCBs), excelentes óleos isolantes de capacitores e transformadores elétricos. A técnica de hidrodescloração, que consiste na substituição das moléculas de cloro por hidrogênios, favorece a biodegradação, eliminando elementos tóxicos facilmente. Os experimentos revelam que o CO² pressurizado facilita a ação dos catalisadores envolvidos, que no caso, são metais nobres, como o paládio e a platina. Dessa maneira, o tempo da reação diminui e com ela o custo e, também, o impacto ambiental. “Estamos acoplando a tecnologia do solvente supercrítico com a nanotecnologia”, explica Luiz Americo S. do Vale, pesquisador do IQ.
Os PCBs foram classificados como Poluentes Orgânicos Persistentes (POPs) e proibidos de serem fabricados. “Apesar de toda a toxidade destes compostos e de sua proibição, eles ainda são encontrados em alguns instrumentos antigos”, explica Bazito. Entre os possíveis danos destas substâncias estão a inflamação da pele (cloroacne), lesão no fígado e disfunção no sistema endócrino, pois o fato de ser pouco solúvel em água faz com que ele se acumule na gordura. A este respeito, as conseqüência na natureza podem ser fatais. O fenômeno da bioacumulação vai se agravando na medida em que o nível da cadeia alimentar sobe. Em outras palavras, um consumidor secundário que digere um ser vivo portador de resíduos de PCBs irá reter em sua camada adiposa, assim como o consumidor terciário e assim por diante.
A última, porém não menos importante, frente volta-se para a eliminação segura e eficaz de fármacos que estão agindo no organismo. Há um ano e meio, aproximadamente, o estudo vem se desenhando. O procedimento consiste na preparação de polímeros, ou seja, macromoléculas orgânicas, conduzindo um sistema de liberação controlada desses fármacos. A vantagem no organismo é que o fluido supercrítico do gás carbônico não é tóxico, alcança o seu destino sem se degradar e não reage com outras substâncias. Além disso, eles são ainda mais “corretos” por contar com a produção de polímeros a base de açúcar, substância renovável e, por isso, são chamados de “polímeros verdes”.