São Paulo (AUN - USP) - Na última terça-feira, 5 de maio, o Departamento de Jornalismo e Editoração da ECA (CJE) recebeu Flávio Dieguez, atual editor de "Internacional" da revista Retrato do Brasil e um dos fundadores da Superinteressante para uma palestra sobre jornalismo científico e as agências de notícias governamentais. A iniciativa faz parte da disciplina Laboratório de Jornalismo Impresso I, ministrada pelos professores José Luiz Proença e André Chaves de Melo Silva.
O professor Eugênio Bucci também esteve presente para fomentar o debate. Ele e Dieguez trabalharam juntos em duas oportunidades, tanto na redação da revista Superinteressante, quanto na Empresa Brasileira de Comunicação – Radiobrás. A Radiobrás foi uma empresa pública criada em 1975, sediada em Brasília, que unia uma agência de notícias, uma rádio-agência, duas emissoras de televisão e cinco emissoras de rádio, produzindo conteúdo distribuído para muitos outros veículos.
Dieguez analisou o atual cenário jornalístico, encarando-o como enfraquecido devido à falta de reportagens. “Fazer jornalismo não é fácil, ele tem que ser uma coisa recente e está exposto o tempo todo a erros”, afirma o palestrante, “Os órgãos de jornalismo podem e devem errar, porque quem não erra, também não acerta. O mais importante é assumir o erro”.
A partir desse tópico Bucci trouxe a discussão sobre a ciência e aprofundou a questão do erro no jornalismo: “A ciência não é fonte de verdade, ela só é digna de crédito porque é falível, porque erra. O jornalismo não é assim, nós demitimos jornalista que erra”. Segundo os palestrantes, a ciência é um percurso, um método para chegar a uma verdade, que posteriormente será investigada, testada e derrubada. O progresso se dá pelo erro, pois se trata de um discurso que só é confiável por ser falível.
Num sistema como esse, o lugar do jornalismo e da apuração devem ser claros. O jornalista não possui meios de refazer a investigação científica para comprovar se está certa ou não, o que pode fazer é entrevistar cientistas e pesquisadores, “e isso contribui para a cultura geral” afirma Bucci. “O papel do jornalista é romper o invólucro acadêmico, arrombar a porta do ocultismo do conhecimento, tirar isso das mãos dos especialistas”. Dieguez, reiterando a fala do professor, definiu a ciência como uma maneira controlada de cometer erros e afirmou: “É preciso desmistificar a ciência, hoje cientista fala qualquer coisa e é endeusado”.
Sobre o trabalho da Radiobrás, os palestrantes foram muito enfáticos no posicionamento ético de uma empresa estatal. “A agência de notícia, mesmo sendo pública, não tinha nenhuma atribuição legal de propagandear o governo. Essa é a pior coisa que pode acontecer”. Dieguez contou como foi atribulada sua participação na empresa, na tentativa de romper a tradição já fortemente estabelecida de pouco criticar o próprio Estado. “Éramos muito criticados. Mas, também havia a dificuldade de tentar fazer uma reportagem e não conseguir, porque apesar de termos muitos jornalistas competentes, havia um certo acomodamento, que foi, aos poucos, sendo quebrado”.