ISSN 2359-5191

06/05/2011 - Ano: 44 - Edição Nº: 22 - Sociedade - Escola de Comunicações e Artes
Especialista americano discute comportamento da mídia internacional

São Paulo (AUN - USP) - A real influência dos meios de comunicação na sociedade e as relações entre mídia e política foram alguns dos assuntos discutidos na palestra Canais de notícias 24 horas e os contra fluxos hegemônicos do americano Oliver Boyd Barrett, da Bowling Green State University, um dos especialistas mais conhecidos quando o assunto é agências internacionais de notícias e seus posicionamentos. A palestra ocorreu na Escola de comunicações e Artes (ECA), no dia 2 de maio de 2011, um dia após a morte do responsável pelo atentado do dia 11 de setembro, Osama Bin Laden.

Essa coincidência foi usada pelo palestrante como um caso modelo e o ajudou a expor sua teoria. Boyd-Barrett entende o mundo de hoje como globalizado, onde a informação produzida em um país pode circular por vários sem grandes dificuldades técnicas. Porém, ele se questiona sobre qual é o conteúdo dessas informações, como elas são passadas e se isso é feito da forma mais correta possível.

Para responder essa pergunta, foi necessário explicar a noção de imperialismo. O imperialismo é uma política onde um país faz de outro sua colônia, o explora economicamente, impõe seus ideais de política e cultura e, em última instância, anexa o território da outra nação ao seu. No século 19 essa prática foi muito comum entre países europeus, como Inglaterra, França e Espanha e nesse período surgiram importantes agências de notícias como Reuters, Havas e Wolff.

As sedes dessas agências ficavam sempre perto de órgãos administrativos e que exerciam o poder político. “Já nessa época havia uma consciência da influência da mídia e as agências normalmente seguiam os ideais políticos dos governos de seus países”, afirma Boyd-Barrett. Por ter essa proximidade com os governos, as notícias não eram passadas de forma imparcial e, sim, favorecendo os ideais políticos predominantes, que na época, eram os imperialistas, de expansão do território e valorização da identidade nacional. Boyd-Barrett destaca as agências internacionais como grandes responsáveis por incutir na mente da população da época que o mundo era dividido em nações, o que é uma construção ideológica e também por fazer aflorar o sentimento nacionalista nos cidadãos.

Essa realidade pode parecer distante da nossa, mas para Boyd-Barrett ela está mais perto do que imaginamos. Para o palestrante, as políticas imperialistas ainda continuam presentes. O domínio, que antes era territorial, passou a ser econômico, e países menores continuam a aceitar imposições das grandes potências por medo de sofrer sanções econômicas. O domínio de uma nação sobre outras continua ocorrendo. E as relações que existiam entre a mídia e o poder imperialista também não mudaram.

Segundo Boyd Barrett, grandes veículos de comunicação como a CNN, por exemplo, que tem presença no mundo todo, mas tem sua base nos EUA, continuam tratando as notícias sobre a ótica das grandes potências, transmitindo sempre uma visão estratégica para a política de seu país, pois ainda mantém relações muitos próximas com os governos. Nesse contexto, o caso de Osama Bin Laden é exemplar.

A cobertura feita até aquele dia, se limitou a dizer que Bin Laden foi morto e que seu corpo foi jogado ao mar, mas pouco se questionou se a execução foi mesmo necessária, ou se no momento da captura ele não oferecia nenhum perigo e poderia ter sido preso ao invés de ter sido assassinado. Essa questão é problemática, já que os EUA são um dos principais defensores dos direitos humanos, nos quais não está prevista a pena de morte. Essas questões não foram levadas a público, pois poderiam prejudicar o estado americano. “Eles vem com uma história, ela é aceita como as fontes oficiais propuseram e não é feito nenhum tipo de questionamento”, disse Boyd-Barrett.

Uma pesquisa coordenada pelo palestrante em 1997 se propôs a analisar a influência das visões das grandes potências na América Latina. Foram analisados três canais de televisão: CNN em espanhol, NTN24 e Telesur. Todos os analisados se auto proclamavam como importantes fontes para notícias latino-americanas. O resultado da pesquisa mostrou que na CNN em espanhol apenas 28,5% do material se referia a região, na NTN24 42,5% e na Telesur 75%. A pesquisa analisou também alguns casos importantes que esses canais cobriram de maneiras diferentes e que deixavam evidente o posicionamento desses veículos de comunicação perante todas as notícias.

Um desses casos foi um conflito entre o governo peruano e os indígenas do país. A Telesur adotou uma postura pró-índios, a CNN não deu importância ao fato, e a NTN24 apenas reproduziu o que as fontes oficiais disseram.

Baseado nos dados da pesquisa Boyd-Barret elaborou uma classificação. A CNN em espanhol é a voz hegemônica, aliada da política imperial e segue seus padrões e interesses. A NTN24 é uma voz subalterna, que também privilegia a visão das grandes potências, mas não tem tanto efeito sobre o público quanto a CNN em espanhol. Já a Telesur é a voz contra hegemônica, que ignora a política americana, foca no local, e defende interesses de aliados nacionais. Essas relações de hegemonia, contra hegemonia e voz subalterna, não são exclusivas da América Latina e podem ser encontradas na maioria das localidades, segundo Boyd-Barret.

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