São Paulo (AUN - USP) - No Laboratório de Controle Biológico da Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF) da USP o conceito de qualidade ganha espaço em diversas linhas de pesquisa. Segundo a professora Telma Kaneko, os estudos desenvolvidos no laboratório têm como propósito verificar a eficácia terapêutica de medicamentos, cosméticos e correlatos, assim como a adequabilidade das pessoas aos compostos. “Cada produto que contém fármacos tem suas especificações e fórmulas. Nosso papel é desvendar os caminhos da construção da qualidade em variados produtos”, afirma Telma.
E quando o que está em pauta são os conservantes, a professora aparece como uma das especialistas no assunto. Segundo Telma, esse produto está na composição de alimentos enlatados, como muitos de nós já sabemos, mas também em pastas de dente, hidratantes, bebidas como o leite, protetores solar, shampoos, xaropes, entre outros. Nesse contexto, a pesquisadora trabalha principalmente com cosméticos de permeação cutânea, ou seja, que agem em contato com a pele.
A partir de métodos in vitro, ou seja, que não utilizam animais vivos para testes, Telma estuda o comportamento de conservantes dentro da composição de cosméticos. De acordo com a pesquisadora, há pouco tempo os produtos que propõe o rejuvenescimento têm ganhado mais espaço dentro do meio acadêmico, principalmente quando buscam novas alternativas ao conservante químico, sintético, para o desenvolvimento de cosméticos mais naturais. “Não só rejuvenescimento, mas o próprio cuidado maior com a pele já faz parte da cultura da sociedade contemporânea”, afirma a professora.
Os conservantes servem para que microorganismos não se proliferem em um composto que contém um fármaco. Como explica Telma, por mais que em todo o processo de produção de um cosmético ou medicamento se esterilizem os “ingredientes”, materiais e ferramentas, essa “limpeza” nunca é completa. “Então, o conservante tenta diminuir o máximo possível a proliferação desses microorganismos que ‘sobram’, em um determinado período de tempo”, explica a pesquisadora. “A partir desse ponto, devemos lembrar que cada fármaco tem suas características, o que faz com que cada composto, ou seja, cada medicamento ou cosmético deva seguir especificações em sua fabricação”.
O conceito de qualidade na área da Farmácia começou a ser formulado para chegar ao que se conhece atualmente ao longo da Segunda Guerra Mundial, com a aplicação, nas pesquisas e produção, das análises estatísticas. Com o decorrer dos estudos, a qualidade em um medicamento passa a ser encarado como uma construção, que já começava na matéria-prima. Como explica Telma, essa ideia compõe o conceito de Controle Total de Qualidade. “Outras diretrizes também começam a surgir, ajudadas, por exemplo, por diversas ferramentas de qualidade, que visam a prevenção de erros do produto final, a garantia da qualidade, alcançada com normas como a ISO 9000 e até a busca por “Gestão da qualidade”, quando falamos em indústria farmacêutica, lucros e gerência.
“Em alguns casos vemos notícias de medicamentos e cosméticos falsificados, mas por conta de todo o cuidado que gira em torno do conceito e da busca por qualidade nas Ciências Farmacêuticas, é difícil encontrarmos registros de que algum produto farmacêutico não foi eficaz”, completa a professora. “Mas, mesmo com o desenvolvimento de conservantes naturais e eficientes, as boas práticas da busca por qualidade não devem ser nunca substituídas”, explica. “Estudamos para construir composições que façam associações entre conservantes naturais e sintéticos, que mantenham um medicamento ou cosmético com qualidade e adequados para o uso, a fim de deixar as pessoas menos expostas aos efeitos ruins dos conservantes sintéticos.”