ISSN 2359-5191

27/08/2003 - Ano: 36 - Edição Nº: 14 - Educação - Faculdade de Educação
Projeto da Educação forma a primeira turma de professores indígenas

São Paulo (AUN - USP) - Há um bom tempo, a cultura indígena vem sofrendo nos bancos escolares espalhados pelo país. Buscando alterar esse quadro, ao menos no Estado de São Paulo, o projeto Magistério Indígena (MagInd), da Faculdade de Educação da USP, prepara educadores oriundos das populações nativas. O intuito é adequar o processo pedagógico às tradições de cada tribo

O MagInd começou em julho de 2002, como parte de uma iniciativa nacional do MEC, e vai formar, setembro próximo, a primeira turma de 60 educadores. Juntos representam as 23 aldeias indígenas espalhadas pelo Estado de São Paulo, divididas em cinco diferentes etnias: Guarany, Tupi-Guarany, Kaingang, Krenak e Terena.

Inicialmente serão formados educadores habilitados para o ensino de crianças dos 4 aos 10 anos (pré-primário e primário), com este curso de preparação valendo como um intensivo do ensino médio.

A presença dessas cinco etnias representou uma das maiores dificuldades do projeto. Segundo a professora Idméia Semeghini-Siqueira, coordenadora de linguagem, cada povo tem características culturais e lingüísticas totalmente diferentes. Apenas nas disciplinas tradicionais, como Português, História, Biologia, e outras como Legislação Indígena, a turma não foi dividida etnicamente. Naquelas de cunho cultural, como Linguagem e Simbologia Indígena, foi feita uma divisão que respeitasse as características de cada povo.

A valorização da cultura de cada povo é o que diferencia esse projeto do ensino fundamental tradicional. A interação entre a língua mãe e o português, entre os dois pólos culturais que estarão presentes na vida futura das crianças, é o meio para diminuir a grande opressão cultural da sociedade “branca”.

Nessa busca pela autonomia pedagógica de cada nação, foi necessário, para essas disciplinas específicas, um recrutamento de professores entre os próprios alunos. Para selecionar os mais capazes para a função, a professora Idméia, que “só” fala Tupi, fez um grande questionário, que incluía um teste para avaliar o domínio de cada um sobre a sua própria língua.

Essas aulas tinham, portanto, uma dupla função. Além de ensinar ou reforçar o conhecimento de cada povo sobre a sua cultura, funcionavam também como primeira experiência de ensino em que os dois pólos se comunicam na mesma esfera cultural.

Como não houve preparação pedagógica dos professores indígenas, surpreendeu os educadores que a mesma abordagem das aulas “tradicionais” fosse abordada nestas disciplinas. O uso de músicas e jogos, utilizados no curso de Português, por exemplo, foi repetido espontaneamente no ensino das línguas nativas, segundo a professora Idméia.

Após a entrega dos seus diplomas, os novos educadores poderão desenvolver uma linha pedagógica própria, incluindo calendário e sistema de avaliação. Isso é fundamental, já que fatores sazonais, como a época da colheita ou do plantio, festas e ritos de cada tribo, não poderiam ser incluídos em um calendário geral do MEC.

Essa turma representa apenas a primeira etapa. A intenção é que o resto do ensino fundamental e o ensino médio também sejam cursados nestas mesmas condições. Os educadores precisariam, porém, de curso superior, estrutura disponível apenas na Universidade do Índio em Goiás.

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