São Paulo (AUN - USP) - Pesquisa realizada na Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF) da USP abre caminhos para o desenvolvimento de um produto probiótico à base de soja e farinha de ocara, semelhante a um iogurte. O estudo vem sendo desenvolvido pela bióloga Raquel Bedani. O produto fermentado tem como ingrediente a polpa da soja. A farinha de ocara é uma espécie de “bagaço” que pode ser aproveitado, uma vez que possui muitos nutrientes interessantes para o bom funcionamento do organismo.
Em sua primeira fase, já concluída, o estudo analisou o comportamento dos microorganismos escolhidos para realizar a fermentação no produto, durante 28 dias de armazenamento. “Observamos duas amostras: uma formulada com soja, fibras e farinha de ocara e uma segunda, sem farinha de ocara”, aponta Raquel. “Nosso objetivo neste início de pesquisa foi avaliar se haveria ou não mudanças na textura e no sabor do produto ao longo desse período, devido ao comportamento dos microorganismos”, completa.
Segundo a bióloga, os resultados das primeiras análises apontam que os microorganimos que haviam sido escolhidos para a produção do “iogurte” são viáveis. No entando, foi constatado que houve mudança na textura do produto no decorrer dos 28 dias. O sabor não se alterou.
Raquel conta que o próximo passo para o avanço do estudo é verificar se o consumo diário do “iogurte” ocasiona redução de marcadores de colesterol. De acordo com a autora, se essa redução aparecer como resultado, o produto fermentado pode participar da dieta das pessoas que tem problemas cardiovasculares, para ajudá-las no combate a essas doenças. “O “iogurte” poderá auxiliar também na prevenção”, aponta Raquel.
Para a segunda fase do estudo, serão convocados 40 voluntários, que consumirão o produto ao longo de 8 semanas. Como esclarece a pesquisadora, os voluntários serão divididos em dois grupos. Um deles vai consumir diariamente, nos mesmos horários, a fórmula do “iogurte” que contém os microorganismos, além da soja e da farinha de ocara. O segundo grupo vai consumir o produto cuja fórmula não contém os microorganismos, sendo uma espécie de grupo controle, para que seja possível testar o efeito das bactérias.
De acordo com Raquel, caso seja constatado que em ambos os grupos tenha havido redução de marcadores de colesterol, o resultado positivo será atribuído à matriz do “iogurte”, ou seja, aos compostos que formam a farinha de ocara, ou as fibras também presentes na “receita”.
“Nesta primeira fase do trabalho, percebemos que o sabor do iogurte, sem adição de aromatizantes ou outros produtos sintéticos, obteve uma aceitação razoável, mas que ainda não nos convence como pesquisadores”, comenta Raquel. “Afinal, um dos principais intuitos é desenvolver um produto mais natural e saudável, sem adição de mais de 8 % de açúcar”, afirma. Como destaca a bióloga, o “iogurte” é voltado para a saúde, e é uma alternativa para as pessoas que desejam cuidar da alimentação.
A autora explica que um produto “pró-biótico” é aquele que possui microorganismos vivos em sua formulação, capazes de sobreviver às condições físico-químicas do estômago, chegando ao intestino. “Ao conseguir chegar a essa etapa do sistema digestivo, esses microorganismos modulam a flora intestinal, e trazem mutos benefícios para a digestão e para outras atividades do corpo”.