São Paulo (AUN - USP) - Os filmes do Super-Homem encantaram várias gerações. Porém, a façanha do herói de sempre lançar gigantescas pedras e permanecer imóvel após atirá-las não causou estranhamento para muitos dos espectadores. Isso indica que os saberes não permaneceram na maioria das pessoas, pois esse comportamento do super-herói fere o “Princípio da Conservação dos Movimentos”.
Esse pequeno exemplo indica que a transmissão do conhecimento no ambiente escolar precisa de inovações didáticas para sua compreensão e aplicação diária no cotidiano pelos alunos. Diante desse paradigma, professores da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (FE-USP) se reuniram em um projeto temático da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), sob coordenação do professor Maurício Pietrocola, denominado Inovação Curricular em Física: transposição didática de teorias modernas e a sobrevivência dos saberes. A iniciativa busca analisar como atualmente está a didatização do conteúdo da física e quais são os obstáculos pedagógicos que mais interferem, em sala de aula, na difusão e incorporação desse conhecimento, inclusive, de alguns tópicos da física moderna.
Em conversa com um dos integrantes da pesquisa, o professor Elio Carlos Ricardo discutiu quais eram os maiores fatores que emperravam a inovação na difusão da Física. “Por muito tempo, pensou-se no ensino da ciência pela ciência, em razão de todo o status que está em volta dela. Temos que ter em mente que não estamos formando físicos no Ensino Médio”, afirma o professor, que vê como necessária a preparação das pessoas para os grandes debates da atualidade, sobretudo para que os discursos circulantes não as iludam. Segundo Elio, a Física é ainda a área mais resistente para a inclusão desses debates no ambiente das escolas em geral.
As recentes discussões e dúvidas sobre a utilização dos transgênicos revelaram que a grande maioria da população não estava preparada para compreender tais questões e dialogar com todas as implicações biológicas desse assunto. O mesmo ocorre hoje com a física.
Por exemplo, o terremoto que devastou o Japão e trouxe complicações para as usinas nucleares levantou importantes e polêmicas questões em torno da radioatividade, que é um tópico da física moderna. Por ser esse um fenômeno que não pode ser visto a olho nu, para integrar a sua discussão é necessário um mínimo de conhecimento que deveria ter sido recebido e assimilado na escola.
O professor ainda afirma que a maioria dos docentes está reduzindo a Física à aplicação de fórmulas e à resolução de centenas de exercícios e se mostra resistente em incorporar os conceitos modernos tanto pelo receio de os alunos não irem bem nas provas quanto em razão de uma certa acomodação dos professores que, pela falta de reciclagem, não acabam ampliando as novas possibilidades e metodologias de ensino.
A fazer um paralelo com a Europa, nota-se que o currículo de colégios da Alemanha, por exemplo, já está todo estruturado em cima da Física Moderna e o Brasil ainda se mantém em grande parte na Física Clássica, inclusive nas faculdades de Engenharia, o que gera ainda mais alienação das inovações tecnológicas e dos grandes debates científicos.