São Paulo (AUN - USP) - Testes realizados no Tanque de Provas do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) ensaiam o futuro da extração e da produção de petróleo no Brasil. As experiências visam o desenvolvimento de plataformas marítimas concebidas com tecnologia nacional, como prevêem dois contratos assinados há menos de dois meses em uma parceria do instituto com a Petrobrás.
Apesar da conhecida liderança mundial do país na produção de petróleo em águas profundas, a tecnologia utilizada nas plataformas marítimas atualmente ainda é, em grande parte, de origem estrangeira. A perspectiva de mudança neste quadro, no entanto, acaba de se tornar presente. Acaba não. Trata-se na verdade da continuação de um empreendimento iniciado no final da década passada, em que foram reunidos o IPT, a USP, a Coordenação de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia (Coppe) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e a própria Petrobras para a criação do Centro de Excelência em Engenharia Naval e Oceânica (Ceeno). O Centro de Excelência é uma rede de conhecimento e desenvolvimento tecnológico, em que estas quatro principais instituições, eventualmente somadas a outras por meio de novas parcerias, agregam esforços e compartilham recursos – força de trabalho, pesquisas, capitais – para dar novas direções à indústria naval brasileira.
O empenho encontra respaldo nas palavras do diretor de planejamento e gestão do IPT, Marcos Bruno, que é também um dos gestores do Ceeno. Segundo ele, as quatro instituições “entenderam que juntas fazem coisas que sozinhas nenhuma delas faz”, e que assim se torna possível para o Brasil “colocar sua infra-estrutura [na área de produção de petróleo] num patamar de excelência internacional”.
Os recém-assinados contratos do Ceeno são exemplos do que disse Bruno. A partir deles é que foi alavancado o projeto de engenharia de uma plataforma e de um navio de produção de petróleo (P-51 e P-52) que serão construídos com uso de até 75% de tecnologia nacional. Tecnologia esta que permite a incorporação de risers rígidos (dutos por onde passa o petróleo, o gás etc) às estruturas, capazes de suportar as pressões externas das grandes profundidades, em oposição aos risers flexíveis utilizados hoje em dia, monopolizados pela França.
Os atuais testes para a futura construção dessas plataformas são possíveis devido aos projetos estruturantes do Ceeno previamente existentes: o Tanque de Provas do IPT; o Tanque Numérico da Escola Politécnica da USP, que simula virtualmente a dinâmica da produção petrolífera nas águas profundas e o Tanque Oceânico da Coppe-UFRJ, um dos maiores laboratórios do gênero no mundo – os dois últimos recém inaugurados.
Esse movimento constante na busca da nacionalização da tecnologia de produção do petróleo envolve um importante fator econômico: não só o Brasil deixa de gastar dinheiro com sua importação, mas também promove a criação de milhares de empregos no país. A maioria deles de mão-de-obra qualificada, já que essa é uma indústria altamente especializada, mas não só. Nos estaleiros e na construção das plataformas também haverá espaço para a mão-de-obra operacional.
Marcos Bruno garante que os projetos abarcam também preocupações com a preservação ambiental, e principalmente com a segurança – não se pode esquecer do acidente com a plataforma P-36 em março de 2001, que afundou após explodir.
As palavras do diretor sobre os projetos do Centro de Excelência dão uma dimensão de seu objetivo: “Aqui, o que se busca não é só o fato econômico de aumentar a produção de riqueza e emprego, mas é também a condição do país de continuar sendo líder em alguma coisa”. E Bruno completa, afirmando que a manter liderança brasileira “não é [apenas] um problema de engenharia oceânica, é um problema de gestão”.