São Paulo (AUN - USP) - O projeto A Mineralogia aplicada ao estudo da Herança Cultural contribui, através de pesquisas geológicas, com a preservação de prédios e monumentos históricos de São Paulo. O trabalho visa, além da conservação, a recuperação de patrimônio. Igreja de Santo Antônio, Faculdade de Direito da USP, Teatro Municipal, Monumento Depois do Banho, Índio Caçador, às Bandeiras, a Ramos de Azevedo, são alguns dos objetos de estudo.
A participação de geólogos na investigação e solução de problemas da conservação da Herança Cultural “é pertinente e tem crescido, pouco a pouco, no Brasil”, de acordo com a coordenadora do projeto, Eliane Del Lama, professora do Instituto de Geociências da USP (IGc). Os métodos valem-se de propriedades baseadas em velocidades ultrassônicas, resistência ao impacto, medição de cor e imagens UV (Ultra Violeta). Esses procedimentos permitem a identificação de pigmentos usados nas construções históricas, caracterização de argamassas e azulejos antigos, determinação da idade de objetos arqueológicos e avaliações do grau de deterioração em que eles se encontram.
A importância dessa linha de pesquisa reside na contribuição científica aliada à preservação histórica e estética da herança cultural paulista. Mesmo que ainda incipiente, “fica claro para nós, geólogos, que este é um campo muito promissor”, afirma Del Lama, que está atualmente em Roma fazendo um curso no Iccrom – centro internacional para o estudo da preservação e restauração do patrimônio cultural – em que são ministradas teoria e técnica com os maiores especialistas da área.
Na prática
“No Brasil ainda não se leva tanto em consideração a conservação dos monumentos”, afirma Luciane Kuzmickas, mestranda sob orientação de Del Lama. Kuzmickas estuda as estátuas do Cemitério da Consolação e observa que os danos às rochas ocorrem, na maioria das vezes, por ação antrópica, direta ou indiretamente. A poluição dos carros e fábricas, por exemplo, pode levar à chuva ácida, que acaba por corroer os monumentos.
Até a própria manutenção das estátuas por profissionais sem instrução adequada e que usam produtos químicos aleatórios prejudicam as peças. Não é aconselhável também dar igual tratamento a materiais com propriedades e características diferentes. “Não pode tratar um granito como um mármore”, afirma Kuzmickas. Outro fator que contribui com a destruição dos monumentos é o vandalismo (pichações, por exemplo) e o roubo de partes das estátuas. “Rouba-se peças de bronze que provavelmente são vendidas para ferros-velho”.
Como resultado das pesquisas, espera-se a inserção e a capacitação de geólogos no trabalho de avaliação e preservação de monumentos históricos, bem como contribuição para a resolução de problemas específicos. Prevê-se também a criação de um núcleo especializado nesta temática no Departamento de Mineralogia e Geotectônica com a implantação de um laboratório específico, para a formação de recursos humanos.
Mais informações: edellama@usp.br, com Eliane Del Lama. Ou lukuzmickas@gmail.com, com Luciane Kuzmickas.