ISSN 2359-5191

01/06/2011 - Ano: 44 - Edição Nº: 38 - Sociedade - Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas
Pesquisadores preocupam-se com o descaso às ciências humanas

São Paulo (AUN - USP) - “É quase um ponto pacífico que a educação é um problema nacional, mas é certo que o que cada um entende por educação é diferente”, polemizou o professor de filosofia da USP, Vladimir Safatle, no início do segundo dia da VII Semana de Ciências Sociais, realizada entre os dias 23 e 27 de maio, na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH). A temática abordada era “inserção e intervenção social”.

Para o professor, é importante que essa divergência no entendimento da educação seja escamoteada, para entender o que “está em jogo” nessa demanda. Existe um largo histórico, ao qual sempre voltamos: os anos 1930, que representaram a primeira formação do Ministério da Educação e o início dos debates sobre a Escola Nova (movimento de renovação pedagógica que ganhou força no Brasil na primeira metade do século 20).

“Geralmente se faz um elogio ao escolanovismo, esquecendo-se que a educação tem dois modelos de entrada”. A primeira, de acordo com Safatle, é a de formação técnica, voltada para grandes massas desempregadas. A segunda seria o sistema que leva os alunos às universidades, uma formação “de elite”. “Esse sistema duplo desapareceu por um tempo, e tende a voltar agora”.

Isso se deve ao atual processo de desenvolvimento econômico pelo qual passa o país. Há uma grande necessidade de mão-de-obra qualificada e a resposta do governo para essa demanda foi a ampliação das escolas técnicas. Na USP, por exemplo, foram implementados cursos como o de engenharia têxtil, extremamente voltado para uma demanda específica do mercado.

“Esse tipo de perspectiva peca do ponto de vista da empregabilidade porque visa o mundo técnico do presente, sendo que você vai trabalhar no futuro”, criticou o professor, para quem a formação alternativa permite não só resolver problemas, mas, principalmente, refletir sobre eles. “A habilidade desenvolvida em um curso universitário é a de desconstruir problemas, encontrar as origens, coloca-los sob outra perspectiva. Nossa maneira de enunciar o problema já é uma parte do próprio problema”.

O lugar das ciências humanas
Safatle também levantou a questão de como as ciências humanas estão sendo desqualificadas pela sociedade, que a medida que a tira do interior do processo de educação nacional, não forma jovens indagadores de problemas. “Isso é muito sintomático de como ela não quer ouvir novas formas de expô-los”.

As ciências sociais são também modelo de reflexibilidade e narrativa de problemas centrais. Como exemplo, o professor citou pesquisadores como Sérgio Buarque de Hollanda e Florestan Fernades, sem os quais não teríamos ciência de muitos dos problemas brasileiros. “As pautas hoje são dadas pela grande imprensa. O problema da educação visa uma modificação brutal no que entendemos por educação”.

A importância dos projetos de extensão
O estudante de relações internacionais da USP, Thiago Saha, encabeça o projeto Educar para o mundo, organizado pelo centro acadêmico de seu instituto. Foi convidado ao debate para apresenta-lo, levando-se em consideração o contexto da Universidade.

“Temos um espaço para aprofundar o conhecimento e levá-lo para uma comunidade que não tem acesso a ele”, defendeu. Concordando com Safatle, reforçou o papel da universidade como formuladora de questões e desafios: “Simplesmente levar o conhecimento para algum lugar é autoritário, é impor valores”.

Para o estudante de direito Rafael Tatemoto, do Núcleo de Direito à Cidade, é necessário que a Universidade altere a sua noção de produção de conhecimento, de forma que o ensino e a pesquisa também se voltem para um tipo de extensão universitária. “A USP não está distante da sociedade, ela serve a uma lógica mercadológica e o mercado faz parte da sociedade. O que precisamos é atender a outros aspectos da sociedade.”

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