ISSN 2359-5191

10/06/2011 - Ano: 44 - Edição Nº: 45 - Sociedade - Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas
As sutilezas da desigualdade são foco de debate na FFLCH

São Paulo (AUN - USP) - O desenvolvimento urbano de São Paulo esteve no cerne das discussões da Semana de Sociologia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH), ocorrida na última semana de maio. Não à toa. “Esse é um tema que desafia as ciências sociais, está na ordem do dia do debate sobre desigualdades no Brasil contemporâneo”, comentou a professora Nadya Guimarães, que formou a mesa junto a professora Fraya Frehse.

“Esse é o ponto de partida das minhas pesquisas: o sonho de São Paulo como expoente de uma sociedade brasileira moderna acabou, a modernização era almejada como solução, mas não veio”, disse Fraya, dando início aos debates da semana. Para ela, há uma associação automática que se faz entre desenvolvimento urbano e história de São Paulo, que esteve sempre vinculada a discursos políticos – lembrou de lemas como “São Paulo, a locomotiva do Brasil”, “São Paulo, a Nova Iorque brasileira”.

Isso se deve bastante ao papel que as ciências sociais destinaram às cidades. Sociólogos e pesquisadores em geral rementem invariavelmente ao papel da cidade no desenvolvimento de um padrão novo, ideias encontradas de Gilberto Freyre a Caio Prado Júnior. “No fundo, tem-se já nos anos 30 uma colocação de que se entendermos São Paulo, entendemos o desenvolvimento do Brasil”.

Os primórdios da vida acadêmica da cidade estão muito ancorados nessa visão de mudanças constitucionais da cidade. Levi-Strauss diria que precisava de um novo mapa a cada segundo para entender o ambiente paulista. São Paulo era um laboratório para se estudar o desenvolvimento do Brasil e a instituição de uma sociedade moderna. Com as ciências sociais, São Paulo se consolida como ponto fulcral para o chamado desenvolvimento urbano no Brasil. “O imaginário dos cientistas sociais na época estava tomado pelas ideias de modernização”.

A face social da cidade
Que sociedade urbana se constitui em São Paulo no bojo dessas transformações? “Considero reveladora a perspectiva de como os modos de produção se fazem presente no cotidiano. A dramaticidade aparece com outra cara, menos como luta de classes, mais como choro, ironia. Olhamos para a maneira como as pessoas interagem na rua e percebemos algumas tendências.”, comentou a professora, para quem, em pleno século 21, regras de interação social continuam valendo: cada um em seu lugar, uma circulação impessoal. Pequenas manifestações atravessam as diferentes classes sociais e sinalizam um atraso em relação ao desenvolvimento urbano ideal.

“As ruas são espaços onde todos estão. Quem vai para as ruas está fadado a uma igualdade no mínimo física. Essas desigualdades transparecem em conflito não institucionalizado e de difícil apreensão para o cientista social. No fundo, estamos diante do mesmo conflito, mas com datas históricas distintas. Pessoas estão reeditando em seus corpos o comportamento de uma sociedade escravista e dividida em estratos sociais.”

O assunto debatido no campus
Questões conflitantes da sociedade em geral podem ser reduzidas e observadas em esfera menor. No caso, o próprio espaço da Cidade Universitária foi posto em foco. “Quais as formas de sociabilidade que reproduzimos no campus? Como que participamos no processo de democratização?”, questionou Nadya.

Para ela, o problema central não é a questão do acesso ao campus, mas de acesso a instituição. “Os indivíduos estão deixando de pleitear a USP. Há uma barreira que faz com que desistam, o que é um paradoxo porque ela é pública, gratuita e extremamente seletiva.”

A forma de sociabilidade está fortemente ligada ao uso do espaço, em sua perspectiva sociológica. “[O espaço do campus] serve para se pensar, ser revelador, precisa ser produto de relações sociais que interferem na organização da vida.” A Universidade sempre envolve uma ideia de que estamos diante de um espaço público de acesso restrito, pois o uso do espaço é restrito: serve para a produção de conhecimento.

No entanto, a professora lembra como o campus foi modificado e realizado em plena ditadura militar, o que transformou completamente sua configuração. “Esse espaço não foi concebido para receber tanta movimentação estudantil como nas últimas décadas. Ao mesmo tempo que foi concebido de maneira específica, não significa que será utilizado de mesma forma. Temos um problema que é muito mais amplo: um espaço que foi concebido num tempo que o objetivo era inviabilizar o encontro, as trocas. Como viabilizar transformações nessa concepção?”

Para as professoras, o desafio que fica é desvendar essas teias que se escondem no espaço, a fim de transformar a realidade. O papel do estudante se faz no dia-a-dia em ações simples como transformar um espaço em agradável. “Somos levados a relativizar a concepção de que está tudo dominado. Em cidades construídas no bojo das transformações ocidentais, os centros apresentam monumentos carregados de significado simbólico. A questão é ampliar o acesso a eles”.

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