ISSN 2359-5191

14/06/2011 - Ano: 44 - Edição Nº: 47 - Sociedade - Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas
Refugiada palestina e coordenador de ONG discutem imigração na FFLCH

São Paulo (AUN - USP) - O deslocamento começou em 1946, no prelúdio da guerra árabe-israelense. Dois anos depois, os refugiados já somavam 400 mil. Atualmente, estima-se que existam 8 milhões de palestinos e descendentes fora de seu território. É a maior população de refugiados do mundo. Munida dessas informações, Arlene Clemesha, professora de Letras Orientais na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH-USP), abriu o debate sobre migrações na VII Semana de Ciências Sociais: “A solução para o conflito territorial entre as nações envolve, necessariamente, a questão dos refugiados”.

Donya Balta Ji é prova viva do discurso de Clemesha. Deixou a Palestina com a família em 1948 rumo ao Iraque, onde se refugiou até 24 de abril de 2003, ano em que eclodiu a guerra contra os EUA. Morou em tendas em pleno deserto jordaniano até 2007, quando se mudou para o Brasil graças a uma parceria nacional com a ONU. “O deserto era um inferno: vivíamos com escorpiões, cobras, tempestades”, lembrou em francês, que ela domina como o árabe e o inglês.

Apesar do grande carinho pelos brasileiros e da melhora na qualidade de vida, a adaptação ainda está em curso. Além do problema linguístico com o português, há falta de atendimento médico gratuito e um grande transtorno pelo qual seu grupo passa desde a chegada: não consegue encontrar emprego assinado por possuir apenas um registro especial, confirmador do status de refugiado. “Sem um RG permanente, a Polícia Federal não permite. Eu sou professora, meu marido é advogado, todos têm mestrado, e vivemos de bicos: dando aulas particulares, fazendo comida”.

“Consideram-nos, os refugiados palestinos, um problema político, e não humano”, desabafou Balta Ji. “Temos o direito de voltar para a Palestina, de nos chamarmos de palestinos. Ainda carrego as chaves da minha casa”.

Uma outra imagem sobre imigração surgiu com o depoimento de Wibert Rivas, coordenador do Centro de Apoio ao Migrante, ONG que promove a inserção social, os direitos humanos e o auxílio a imigrantes latino-americanos. Existem cerca de 30 milhões de imigrantes sul-americanos no mundo, segundo Rivas, e parte considerável está atraída por um Brasil em fulgurante fase de estabilidade e crescimento econômico.

A Confederação Nacional de Bispos do Brasil estima que são por volta de 600 mil os imigrantes em situação irregular, com bolivianos, paraguaios e peruanos liderando a lista de nacionalidades. Uma anistia aprovada em 2009 regularizou a situação de mais de 40 mil pessoas (34 mil só na capital paulista), mas o caminho é longo e Rivas critica a falta de uma política nacional de imigração: “A própria palavra ‘imigrante’ é evitada pelo governo. Brasileiros fora do país são chamados de ‘brasileiros no exterior’”.

Para ele, a interação entre brasileiros e imigrantes é não apenas necessária como extremamente vantajosa. “Eles vieram para ajudar o país a crescer”.

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