São Paulo (AUN - USP) - Ao longo de muitos anos, doenças como malária, chagas e tuberculose não despertaram o interesse da indústria farmacêutica, pois o investimento para a produção de um medicamento direcionado às chamadas doenças tropicais é alto, enquanto o retorno não é imediato. No entanto, segundo a professora Elizabeth Igne, da Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF) da USP, atualmente as doenças tropicais têm recebido mais atenção e investimentos, o que revela uma possível mudança neste quadro.
Na FCF, Elizabeth é pesquisadora desde 1961 e sua linha de pesquisa é o planejamento e a síntese de quimioterápicos potencialmente ativos em endemias tropicais, ou seja, voltada à construção de compostos que possam vir a ser um fármaco. “Por meio dos estudos, propomos estruturas, moléculas. Esta é a parte inicial de uma pesquisa. É o nascimento de um medicamento que combata as doenças tropicais, negligenciadas pela indústria farmacêutica.”
O segundo passo para a produção de um fármaco, depois de proposta uma molécula, são os ensaios clínicos, o que Elizabeth aponta como uma das fases mais caras de todo o processo. “Quando temos um composto elaborado, ou enviamos a colaboradores, que fazem ensaios em enzimas e protozoários, por exemplo”.
Além de propor novas estruturas químicas, os estudos orientados pela pesquisadora analisam medicamentos que já estão no mercado, com a finalidade de tentar modificá-los para que sejam mais eficazes.
Em sua trajetória como pesquisadora, Elizabeth aponta a molécula “NFOH“ como a “menina dos olhos” para a síntese de medicamentos contra as doenças tropicais. Esse composto já originou muitos outros compostos, e foi sintetizado no Laboratório de Planejamento e Síntese de Quimioterápicos Potencialmente Ativos contra Endemias Tropicais (Lapen), do Departamento de Farmácia, no primeiro trabalho com o protozoário Trypanosoma cruzi, causador da doença de Chagas. “É uma molécula simples, de toxidade baixa e atividade maior que muitas outras.”
De acordo com a professora, as doenças tropicais merecem mais atenção, pois são perigosas e muitas delas matam lentamente. Como esclarece Elizabeth, a doença de Chagas, por exemplo, é combatida por um antichagássico, que age no microorganismo. Porém, ele é mais eficaz na fase aguda, inicial, na qual a doença ainda e imperceptível. “O doente só começa a sentir os sintomas na fase crônica, onde tudo piora. Neste momento, os medicamentos tratam os sintomas, mas não matam o parasita”.