São Paulo (AUN - USP) - Desvendar como uma bactéria consegue se tornar resistente a antibióticos é um dos objetivos das pesquisas realizadas no Laboratório de Análises Clínicas Toxicológicas da Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF) da USP. Os estudos da doutoranda Mônica Pavez revelam particularidades de como esses pequenos seres vivos criam mecanismos para sobreviverem mesmo com a atuação do antibiótico, sendo a adaptação o principal caminho escolhido pelo grupo das enterobactérias. “Aqui, testamos a resistência a antibióticos carbapenêmicos”.
Segundo a pesquisadora, esse tipo de antibiótico é muito utilizado em casos de infecção hospitalar, como um dos mais poderosos no combate a doenças. No entanto, as pesquisas mostram que sua composição estimula que as bactérias por ele combatidas criem resistência, geralmente em espaços de tempo curtos, o que é perigoso para os pacientes.
Ao analisar bactérias que foram selecionadas a partir de amostras colhidas do ambiente hospitalar, percebe-se, inclusive, que este grupo é mais resistente, já que se desenvolveu em um meio no qual sempre se deve “aprender” a sobreviver com a atuação de diversos antibióticos.
Os carbapenêmicos atuam na parede das enterobactérias, o que faz dele um medicamento “seguro” para as células humanas. De acordo com a cientista, caso um antibiótico do grupo dos carbapenêmicos não seja suficiente para tratar uma infecção, em um ambiente hospitalar, geralmente se recorre a outras drogas, geralmente tóxicas às células humanas.
Porém, Mônica salienta que o próprio carbapenêmico pode induzir a bactéria a produzir mecanismos que a protejam, “fazendo com que a infecção volte, depois de algumas semanas, de forma mais intensa, com bactérias resistentes”, o que anula o poder do antibiótico.
Em seu projeto de doutorado, orientado pela professora Elza, a pesquisadora faz uma análise molecular dos pequenos organismos para desvendar como a bactéria produz os mecanismos de resistência, a partir do momento em que o antibiótico a induz. Como afirma Mônica, “estamos chegando na metade do caminho, quando vamos finalizar a seleção de cepas colhidas de ambiente hospitalar”. A cientista já está dividindo as amostras em quatro grupos, montados considerando o quanto cada um deles produz mais ou menos resistência ao antibiótico utilizado na pesquisa, ou seja, é mais ou menos sensível aos seus efeitos.
De acordo com seus estudos, esse tipo de conhecimento produzido nos laboratórios pode auxiliar para que futuramente os médicos tenham mais subsídios para trabalharem de maneira mais especializada e cuidadosa, podendo escolher melhor qual tipo de antibiótico usar, para cada grupo de bactérias. “Já descobrimos bactérias do grupo das enterobactérias que se adaptam às condições de vida com o antibiótico, que passam a não conseguir atuar.”