São Paulo (AUN - USP) - O dia 23 de maio é o aniversário de Carolus Linnaeus, um botânico, zoólogo e médico sueco vivido no século 18, conhecido como o “pai da taxonomia moderna”. Isso quer dizer que ele criou o sistema atual de nomenclatura binominal e classificação científica das espécies. Não coincidentemente, porém, o dia 23 de maio de 2011 é também o dia que foram anunciadas as dez novas espécies consideradas mais significativas de 2010.
O chamado Top 10 New Species é divulgado anualmente pelo Instituto Internacional para Exploração de Espécies (IIEE), da Universidade Estadual do Arizona (EUA). Este é o quarto ano em que acontece. A lista é escolhida por meio de votos de especialistas do mundo todo. Milhares de espécies publicadas no ano de 2010 são avaliadas, sob livres critérios do comitê. “É considerado o Oscar das espécies no meio científico”, diz Cassius V. Stevani, pesquisador do Instituto de Química da USP.
O professor Stevani foi responsável pelo descobrimento de um dos exóticos seres vivos que compõe a lista. O fungo bioluminescente foi identificado como Mycena luxaeterna (luz eterna) por Dennis Desjardin, taxonomista de fungos e professor de biologia da Universidade Estadual de São Francisco (SFSU, EUA). O pequeno fungo brasileiro foi coletado no interior da Mata Atlântica, mais especificamente no Parque Estadual Turístico do Alto Ribeira, em Iporanga, São Paulo, e possui a curiosa característica de ter a superfície do seu estipe (“cabinho”) coberta por um gel, que reflete a luz verde emitida. A espécie “luz eterna” vem reunindo matérias na mídia internacional a seu respeito. Um exemplo é a revista Bato Balani, das Filipinas, que concedeu sua capa deste mês e uma reportagem interna repleta de fotos.
Os trabalhos de Stevani e Desjardin já foram capa duas vezes da revista norte-americana Mycologia, em 2007 e 2010. Também foram foco de uma matéria feita pela Agência Universitária de Notícias (AUN), em 2 de maio de 2011 (Endereço da matéria: http://www.usp.br/aun/_reeng/materia.php?cod_materia=1105003 ). Porém, a divulgação não parou por aí. Recentemente, um outro artigo, de autoria da professora Marina Capelari (Instituto de Botânica do Parque do Estado) , descrevendo a espécie Neonothopanus gardneri foi aceito pela mesma revista, a qual será novamente capa, provavelmente ainda este ano.
Supõe-se que existam cerca de 1,5 milhão de espécies de fungos na Terra, sendo conhecidas apenas 71 espécies com a capacidade de emitir luz. O professor do IQ iniciou os estudos sobre fungos há dez anos e desde então pesquisa o mecanismo de emissão de luz por estes organismos, além de suas possíveis aplicações em Química Ambiental.
O registro taxonômico é muito importante para que cientistas do mundo inteiro possam fazer referência a uma mesma espécie investigada. A partir de um sistema padronizado e eficiente de classificação, é possível manter uma convenção internacional para se referir à mesma espécie em localidades diferentes. Já o prêmio recebido do IIEE cumpre com a proposta de incentivar a procura e devida classificação de organismos até então desconhecidos.
Biólogos da USP e outros pesquisadores do IQ ficaram de olho no ranking anunciado. Este ano, a lista incluiu, além do Brasil, representantes do Golfo do México, de Madagascar, Peru, do sul e do oeste da África, entre outros. Já em relação às espécies exóticas que pertencem à lista, podemos citar uma sanguessuga com dentes gigantes, uma barata saltadora e até uma bactéria que se alimenta de ferrugem encontrada em destroços do navio Titanic, naufragado em 1912.
O interessante desta divulgação é o destaque dado à biodiversidade e a consciência de que ainda existem muitos seres vivos desconhecidos pelo homem. "Nossa melhor estimativa é de que todas as espécies descobertas desde 1758 representam menos do que 20% do total de plantas e animais que habitam a Terra", disse o diretor do instituto, Quentin Wheeler, no site ASU News. Segundo ele, uma estimativa razoável é de que 10 milhões de espécies ainda não foram descritas, nomeadas e classificadas.
John Sparks, um dos cientistas envolvidos na descoberta de um peixe semelhante a um morcego, no Golfo do México, disse que “se ainda estamos achando novas espécies de peixes no Golfo, imagine quanta diversidade, especialmente microdiversidade, está por aí que nós não conhecemos”.
A pesquisa por novas espécies e suas origens é um interesse da humanidade, pois nos ajuda a montar um quebra-cabeça da história dos 3,8 bilhões de anos de evolução. É um desafio. Entretanto, é necessária a dedicação em estudos deste tipo porque vivemos em um mundo que se transforma rapidamente. Assim como Wheeler comparou, enquanto os astrônomos procuram vida em outros planetas como a Terra no espaço, os taxonomistas exploram formas de vida no planeta que nos é mais familiar, a própria Terra.
Para mais informações sobre o Top 10 New Species 2010, visite o site: http://species.asu.edu/Top10