São Paulo (AUN - USP) - Pesquisas realizadas no Laboratório de toxinas e produtos naturais de algas da Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF) da USP desvendam riscos e benefícios que as cianobactérias e as algas podem oferecer para o homem. Esses organismos podem causar o que os cientistas chamam de floração, contaminando a água em reservatórios. As toxinas de agumas espécies agem no organismo humano gerando vários problemas, como paradas respiratórias. Em outros casos, podem ser utilizadas para a produção de cosméticos.
Segundo o professor Ernani Pinto, é o crescimento acelerado de espécies como a Microcystis spp., a Anabaena spp. e a Cylindrospermopsis spp, que acarretam riscos para o homem. De acordo com o cientista, a utilização de fertilizantes é um dos exemplos de causa desse crescimento acelerado.
No Brasil, o problema da floração e da contaminação de água é corrente em regiões mais carentes, onde em muitas áreas não há saneamento básico e o processo de armazenamento de água não recebe os devidos cuidados. Nesse sentido, os estudos são desenvolvidos com o objetivo de identificar quais são as espécies que causam esses danos, e quais as toxinas nocivas que elas produzem. “Já descobrimos toxinas que aparecem somente no território brasileiro. Por meio das pesquisas é possível desvendar caminhos para aprimorar o monitoramento dessas águas”, conta Ernani Pinto.
Porém, as cianobactérias e as algas também trazem benefícios ao ser humano. Como afirma o professor, os estudos também são voltados para apontar quais seriam os compostos produzidos por eles que acarretariam em bons resultados. Os estudos mostram que alguns desses organismos produzem compostos antioxidantes, como o ômega 3. Há algumas pesquisas realizadas no próprio laboratório que revelam a capacidade antinflamatória da substância produzida por algumas espécies, assim como a de bloquear a luz solar. “Além disso, diz Ernani Pinto, as algas são muito utilizadas na culinária oriental como alimento, fonte de proteínas”. Segundo ele, existem espécies desses seres que também apresentam caráter antibiótico.
Monitorar a presença de compostos tóxicos na água faz parte da linha de trabalho dos pesquisadores desse laboratório. Ernani Pinto salienta a importância desse tipo de estudo explicando que na água da torneira, por exemplo, pode haver resíduos de compostos tóxicos, como de medicamentos excretados na urina e nas fezes, que passam despercebidos no processo de tratamento da água. “Lógico que falamos em baixas concentrações, mas o que significaria esse “consumo” em pequenas doses ao longo de uma vida”?
Outro exemplo de resíduo que pode estar presente na água é a própria cafeína, ou mesmo hormônios. “A preocupação maior é com regiões como o Nordeste do país, onde tudo ainda é muito precário”, relata o professor. “Em cidades como São Paulo e Rio de Janeiro há monitoramento e são tomados os devidos cuidados para que toxinas produzidas por algas e cianobactérias nocivas não cheguem às torneiras, mas em outros estados isso só acontece se o problema já estiver avançado e muito evidente”.