São Paulo (AUN - USP) - “Eu não gosto de sangue de barata”, essa foi uma das frases de João Luiz Woerdenbag Filho, mais conhecido como Lobão, na palestra que o músico deu no Departamento de Jornalismo e Editoração (CJE) da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP. O evento que foi divulgado como uma discussão sobre sua biografia recentemente publicada 50 anos a mil, que contou com a presença do jornalista, professor da ECA/USP e colaborador da obra, Claudio Tognolli, acabou tomando um rumo um pouco diferente e passou a ser uma reflexão de Lobão sobre suas idéias e opiniões, relacionadas a música, política e corrupção.
O músico externou seu desprezo tanto pela direita quanto a esquerda, considerando ambas retrógradas e amarguradas. Não faltaram críticas também à MPB. Para ele, a evolução natural da música é o rock´n roll e o que se faz hoje e que se chama MPB é, na verdade, uma enganação. “O choro é uma língua morta, a Tropicália e a Bossa Nova também caminham para isso”, disse o palestrante. Ainda segundo o músico, ele pode criticar os artistas da MPB como Chico Buarque e Caetano Veloso, pois estudou toda a obra deles e sabe tocá-la, o que lhe dá autoridade para falar sobre o assunto.
Para exemplificar sua idéia, de que os defensores da Bossa Nova estão agindo de forma retrógada, ele citou o movimento que ganhou força na Semana de Arte Moderna em 1922, conhecido como Antropofagia, que é visto, até hoje, como idéia recente, sendo que, para ele, pegar algo que vem de fora e adaptar a sua realidade é algo ultrapassado, é medo de aderir completamente ao estrangeiro. Para Lobão, isso é de um nacionalismo exacerbado e é por isso que o rock´n roll não consegue evoluir na velocidade desejada no Brasil.
Mas não foi apenas esse gênero musical que as farpas do músico atingiram, segundo ele “sertanejo universitário é uma droga”. Depois dessas declarações, ao ser questionado do que, afinal, então, ele gostava do que havia de atual na música brasileira, ele citou alguns dos jovens artistas que já lançou, como a banda Cachorro Grande. Disse também que apesar de não gostar de algumas coisas que existem atualmente na música, elas tem o direito de existir e é melhor que existam.
Lobão defendeu a idéia de que tocar no rádio ainda é essencial para um músico e que as novas gerações não devem se iludir com a democratização que a Internet promete, e devem lutar pelo seu espaço nos grandes veículos de comunicação. “Ainda é importante tocar no rádio para ser conhecido. Restart tinha 1 milhão de acessos na Internet e não era conhecido”, exemplifica o músico.
Na parte da palestra que foi de fato dedicada ao livro, Lobão disse que aquela publicação o protegia e explicitava a perseguição que ele sofrera. Como exemplo, dessa perseguição, ele citou que os arquivos da polícia - o músico foi detido algumas vezes - se referiam a ele como um sociopata. Essa perseguição ele acredita sofrer também por parte da mídia, pois, segundo o próprio, sempre foi retratado como decadente pelos meios de comunicação. “Eu sou a única pessoa decadente desde criancinha”, disse em tom irônico o palestrante. Claudio Tognolli, que escreveu o livro em parceria com o músico, é repórter investigativo e teve a função de, entre outras, recolher toda a documentação e o que havia sido publicado na mídia para corroborar as história de Lobão e dar-lhes veracidade.
As idéias de Lobão são ásperas e radicais e ele as exibiu de forma apaixonada na palestra dada ao CJE. Sem meias palavras e usando de frases de efeito como “a música brasileira morreu nos anos 60” e “ a esquerda é constituída de perdedores”, ele expressou suas idéias sem estar muito preocupado com o que as pessoas iriam pensar ou se podiam se ofender com aquilo. Ele parece acreditar estar exercendo seu papel social por pensar diferente. Bom, concordar ou discordar vai de cada um, mas a maneira exacerbada com a qual se apresentou no pequeno auditório, mostra que em pelo menos um ponto, seguramente, ele não entra em contradição. Não gosta e nem tem sangue de barata.