ISSN 2359-5191

22/06/2011 - Ano: 44 - Edição Nº: 53 - Sociedade - Escola de Comunicações e Artes
Rotina e função de um repórter em grandes conflitos são discutidos em palestra

São Paulo (AUN - USP) - O editor executivo do jornal Folha de São Paulo, Sérgio Dávila, esteve presente no dia 8 de junho na Casa de Cultura Japonesa, Cidade Universitária, para dar uma palestra não sobre o seu atual cargo, mas por situações que já passou como jornalista em regiões de conflito. A primeira foi como correspondente em Nova York de 2000 a 2003, período em que cobriu o atentado 11 de setembro e suas conseqüências e depois na Guerra do Iraque onde foi o único jornalista brasileiro presente junto com o fotógrafo Juca Varella. O editor comentou as duas experiências que renderam livros de sua autoria: Nova York - Antes e Depois do Atentado e Diário de Bagdá - A Guerra do Iraque Segundo os Bombardeados.

O evento foi organizado pela empresa Jornalismo Júnior, administrada apenas por alunos do curso de jornalismo da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo e fez parte do ciclo de palestras Histórias que se contam: o jornalismo em grandes reportagens. As discussões que aconteceram nos dias 7, 8 e 9 de junho contaram também com a presença dos jornalistas Sérgio Villas Boas e José Hamilton Ribeiro.

A primeira experiência como correspondente em Nova York foi o que credenciou Dávila a cobrir conflitos maiores. Ele foi para a cidade antes do atentado e não tinha como saber que enquanto estava lá aconteceria um dos maiores eventos da atualidade. O editor morava a 10, 15 quadras do World Trade Center e no dia 11 de setembro de 2001 quando o primeiro avião já havia atingido uma das torres os policiais começaram a fechar as ruas que davam acesso ao local. “Para minha sorte, minha rua não foi bloqueada. Fui o primeiro brasileiro de jornal impresso a chegar. Enquanto caminhava para o local, vi a primeira e a segunda torres caindo e centenas de pessoas indo na direção contrária a minha”, conta Dávila, relembrando os momentos daquele dia.

Depois, o palestrante comentou que cobriu também toda a seqüência de fatos derivados do atentado, como a política de Guerra ao Terror instituída por George W. Bush e a apuração do que aconteceu como correspondente internacional. Essa experiência lhe deu credibilidade com o jornal e quando a Guerra do Iraque estava para começar, ele foi sondado para fazer a cobertura. Após refletir, levando em conta a opinião de seu sogro, outro grande jornalista especializado em cobertura de guerra José Hamilton Ribeiro e sua família, Dávila aceitou a proposta.

Devido aos riscos que assumir um posto de repórter de guerra implica, Dávila fez um curso ministrado pela ONU e que considera essencial a todos que gostariam de seguir o mesmo ramo que ele, onde se tem noções básicas de como se comportar em situações potencialmente perigosas. Conta que aprendeu a identificar pelo som do tiro qual é o modelo da arma, e o seu poder de alcance conseguindo, assim, decidir onde é possível se esconder dos projéteis. Não precisou aplicar isso no Iraque, mas seguindo os conselhos do curso, montou uma rota de fuga do país, caso a situação piorasse, logo que se instalou no Hotel Palestine.

O palestrante explicou um pouco do seu dia-a-dia no Iraque: “Tentamos (Dávila e o fotógrafo Juca Varella) manter uma rotina no meio do caos. A cada novo amanhecer, uma nova dificuldade surgia, falta de energia, problemas com a conexão para falar com o jornal e com os familiares, escassez de comida fresca, de água para banho e, no fim, até de água potável”, conta. “No tempo que passávamos na rua tentávamos conversar com os civis iraquianos. Mais a tarde íamos atrás de informações oficiais. Quando escurecia, escrevíamos e se conseguíssemos uma conexão enviávamos o material. Depois, pensávamos em banho e comida”

Ele relatou também a dor de ver a morte de civis e também de outros jornalistas e que a imagem que Juca Varella fez que mais lhe marcou e emocionou não é de nenhuma tragédia evidente. Quando o governo de Saddam já havia caído e uma instalação provisória dos americanos tinha sido instituída, todas as manhãs, vários senhores iraquianos que deviam ter algo entre os 70 anos de idade arrumavam-se e faziam fila em frente ao prédio dos EUA esperando que, com o novo governo, pudessem conseguir um emprego, descreveu Dávila. Foi dessa enorme fila a imagem que mais marcou o jornalista, a esperança de uma vida melhor no meio do caos.

O editor disse também que para quem pretende seguir essa carreira é melhor ter alguma bagagem e já ter feito um curso de como se comportar em regiões de conflito antes de ir para uma guerra. Nesse tipo de situação, o jornalista desempenha um dos seus principais papéis na sociedade, denunciando crueldades e massacres e arriscando a própria vida nisso, para impedir que se repitam. “Em uma guerra as chances de você se machucar são maiores, mas o compromisso com o público é o mesmo”, conclui Dávila.

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