São Paulo (AUN - USP) - Com a chegada dos dias mais quentes e úmidos da Primavera, torna-se comum a presença dos chamados siriris (ou aleluias) ao redor de postes de luz ou mesmo dentro de casa, perto de lustres ou abajures, nos finais de tardes de calor. Trata-se na verdade de cupins alados, que de agora até dezembro saem dos ninhos para se reproduzir e formar novas colônias.
A praga dos cupins é velha conhecida da cidade de São Paulo. Atacam principalmente madeira, mas também papel e tecidos. Alimentam-se da celulose contida nestes materiais. A revoada de acasalamento que se inicia agora forma casais de insetos que vão procurar locais para criar novas colônias, o que na maioria das vezes não dá certo. Isso porque o sucesso depende de inúmeras variáveis, como o calor, a umidade, o solo, a presença de matéria orgânica e de madeira. Ainda assim, os que conseguem tornam-se cupins reis e rainhas e chegam a produzir milhões de ovos.
O pesquisador do IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas) Gonzalo Lopez, que atua no estudo e diagnóstico de ataque de cupins e brocas-de-madeira, conta que o cupim é cientificamente determinado como inseto social, já que vive em comunidades onde grupos de indivíduos exercem diferentes funções. Numa colônia destes xilófagos (insetos comedores de madeira) existem, além do casal real e dos reprodutores, os soldados, que defendem o ninho, e os operários, que trabalham para sua manutenção. Colônias de cupins podem durar mais de 15 anos.
São conhecidas no mundo mais de 2500 espécies do inseto, das quais 90% não causa problemas ao homem. Em São Paulo eles se dividem em duas mais comuns: os cupins de madeira-seca, que infestam basicamente móveis de madeira, deixando o indefectível rastro de serragem; e os cupins subterrâneos, que constituem colônias mais numerosas e atacam estruturas de edifícios. Em edificações infestadas por esses cupins é bastante comum encontrar seus túneis nos espaços existentes entre lajes, na rede hidráulica e em conduítes elétricos, assim como em armários embutidos, batentes e guarnições. Curiosamente, o cupim subterrâneo (coptotermis havilandi) não é natural do Brasil, e sim do Sudeste Asiático – a praga se prolifera em regiões quentes.
Para o tratamento de locais infectados, Lopez recomenda que a primeira coisa a se fazer é um diagnóstico detalhado do problema, com a identificação da espécie do cupim e das condições encontradas. Só assim uma descupinização adequada é possível. Essa descupinização é feita normalmente com o uso de produtos químicos. Há hoje uma tecnologia de iscas (que ainda não é amplamente utilizada), produtos de ação lenta e não repelente, que contaminam toda a colônia para eliminá-la.
Apesar disso, as pessoas costumam usar das mais diversas formas para se livrar dos cupins. Há os que jogam óleo queimado ou até querosene na madeira infectada. Isso até mata os insetos, mas não tem poder de evitar que eles voltem. Outra “precaução” bastante comum é deixar pratos com água embaixo das lâmpadas, para pegar os siriris caídos e evitar que procriem. E existem casos de gente que deixa alho em gavetas para inibir os cupins. Lopez afirma que estes não são os métodos mais eficientes, mas que “não se pode descartar a sabedoria popular”.
Segundo ele, o ideal é que as pessoas se previnam antes de construir ou comprar móveis. Uma das formas é escolher madeiras que são naturalmente resistentes, como a peroba-rosa, o ipê e o jatobá, ou madeiras previamente tratadas. A prevenção era até pouco tempo desprezada no Brasil, mas o quadro se alterou. Hoje tramita um projeto na Câmara Municipal, o Código de Pragas Urbanas, que, entre outras coisas, vai criar normas para indústrias, marcenarias, construtoras e quem mais lidar com madeira, visando a entrega de produtos com certificados de descupinização ao consumidor.