São Paulo (AUN - USP) - Entre os dias 7 e 9 de junho, a empresa júnior de jornalismo da ECA (J. Júnior) realizou o encontro Histórias que se contam: o jornalismo em grandes reportagens. Importantes nomes do jornalismo brasileiro foram convidados a debater com os alunos sobre o desafio de escrever grandes matérias. “Para nós, estudantes, ter jornalistas consagrados nos transmitindo suas experiências é importante e também inspirador”, diz Juliana Santos, membro da J. Júnior e uma das organizadoras do evento.
O primeiro convidado foi Ricardo Kotscho, que iniciou sua carreira aos 16 anos, já trabalhos para a Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Jornal do Brasil, além de ter sido secretário de Imprensa e Divulgação da Presidência da República durante o governo Lula. Kotscho enfrentou a ditadura militar, cobriu a morte do general Humberto de Alencar Castelo Branco, o esquema dos superfuncionários do governo e participou do projeto da revista Realidade, a publicação que revolucionou a imprensa brasileira, mesmo com seus breves 20 meses de existência.
Fugindo ao padrão de suas palestras, Kotscho não escreveu apontamentos e nem realizou uma fala introdutória, apenas se abriu a todas e quaisquer perguntas dos jovens estudantes que estavam ali. O primeiro silêncio foi inevitável, mas o renomado jornalista tem tanto a dizer, tantas experiências e tantas opiniões que logo os estudantes já competiam pelo espaço da pergunta.
“Na natureza de nossa profissão não mudou nada, mudaram os instrumentos, mas ainda se trata de contar a novidade”. Kotscho não vê as novas plataformas de informação como uma mudança estrutural no fazer jornalístico. Para ele o conteúdo é que faz a diferença, não importa a plataforma. “Não faz diferença desde que tenha uma história para contar”, afirma. E de onde surgem as histórias? Kotscho diz que os repórteres devem ir às ruas, mas não apenas para “sujar a sola dos sapatos”.
O jornalista é diferenciado, é um profissional porque vai atrás de informação. “Ir atrás da notícia é o que move a gente”, diz. O repórter vai às ruas para apurar, mas não deve sair com o objetivo de fazer uma grande reportagem. “É muita pretensão. Você sai para fazer uma matéria e ela pode vir a ser uma boa história”, completa.
Segundo o jornalista, temos tantas informações circulando pelo mundo, que é preciso alguém para organizar, priorizar e explicar. “A diferença de um profissional é que ele vê o que os outros não veem”, diz. Os jovens estudantes de jornalismo, segundo o palestrante, se preocupam muito em imprimir opinião no texto, mas os leitores querem informação. “Antigamente, jornalista se achava o dono da verdade. Hoje, todos nós somos emissores e receptores de comunicação”, afirma.
Kotscho finalizou sua apresentação, ainda sem responder a muitas outras perguntas, mas com uma lição sobre qual é o verdadeiro compromisso dos que se dispõem a ser jornalistas: “Acho que esse é o desafio, mostrar como vivem e sobrevivem os diferentes”. Os estudantes que estavam naquele auditório foram convidados, a partir das falas do experiente jornalista, a pensar sobre qual seria o compromisso com a sociedade que os motivaria dentro da profissão: “Se você não se divertir com aquilo, não tiver vontade de descobrir, não vai cativar ninguém. Tem que ir atrás e ter uma história para contar”.