São Paulo (AUN - USP) - Teste in vitro elaborado pelo Laboratório de Biofarmacotécnica da Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF) da USP permite que a indústria farmacêutica preveja reações de organismo humano à modificações na formulação de composto de diclofenaco, presente em medicamentos como o Voltarem. Segundo a cientista Valentina Porta, coordenadora do Laboratório, um teste in vitro é menos custoso que um teste in vivo, o que aponta a importância do desenvolvimento de estudos voltados para a área de bioequivalência de medicamentos, uma de suas principais linhas de pesquisa.
O comprimido é um composto formado pelo fármaco, que age no organismo, e pelos ecipientes, que conseguem “segurar” esse agente, liberando-o de pouco em pouco, ou de uma só vez, dependendo das necessidades e urgência do paciente. Como explica Valentina, para elaborar corretamente um medicamento, é necessário considerar o quão rápida pretende ser essa liberação, e quais ecipientes devem ser utilizados, pois isso muda, consequentemente, a absorção do agente pelo organismo. “Isso é o que chamamos de biodisponibilidade.”
Caso a indústria farmacêutica esteja interessada em produzir um novo medicamento ou mudar os ecipientes de um composto, a fim de torná-lo mais barato, por exemplo, precisa testar quais seriam os comportamentos da nova formulação no organismo, ou seja, como este vai absorver o fármaco. Nesse sentido, os estudos desenvolvidos no Laboratório de Biofarmacotécnica propõem correlações entre o processo de liberação de um fármaco por um comprimido e a absorção deste no organismo.
Para chegar às conclusões que relacionam a liberação testada in vitro à absorção in vivo, a pesquisadora utiliza um instrumento chamado dissolutor. “É um recipiente, que parece um copinho, onde colocamos o fármaco, os solventes e os ecipientes”, conta Valentina. “Ajustamos a agitação, a temperatura, para tentar simular as condições do organismo vivo”. Ao observar a quantidade de fármaco liberado, ou seja, a concentração daquela solução, em função do tempo, é feito um levantamento de medidas e valores com os quais a absorção pode ser correlacionada às medidas referentes à absorção pelo organismo.
Os valores que indicam como o fármaco é absorvido são obtidos por meio de testes in vivo, com voluntários, nos quais os medicamentos são administrados no sangue. “Quando não há a correlação, a indústria farmacêutica deve recorrer aos testes in vivo, que são mais caros e trabalhosos”, diz a pesquisadora. “Nossos estudos são bastante específicos para cada fármaco, e apontam como uma mudança em sua composição transformariam sua solubilidade e permeabilidade”.