São Paulo (AUN - USP) - O grupo de estudos AlterJor da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da Universidade de São Paulo (USP) realizou o curso Jornalismo Olímpico: técnicas para a cobertura esportiva, no Auditório Armando Nogueira no Museu do Futebol. O evento contou com a participação de Anderson Gurgel, autor do livro Futebol S/A: a economia em campo (Editora Saraiva), Luciano Maluly, docente da ECA e Ary Rocco Junior, coordenador geral dos cursos de graduação do Centro Universitário Fecap/SP (Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado).
Na entrada, cada aluno recebeu uma cartilha sobre o Olimpismo, filosofia de vida que defende a formação de uma consciência pacifista, democrática, humanitária, cultural e ecológica por meio da prática esportiva. Entre os ideais do Olimpismo, encontram-se a participação da massa e a educação por intermédio do esporte, com vistas à promoção do espírito coletivo.
Essa ideal profundo e inspirador das Olimpíadas encontra-se disperso pelos interesses econômicos que envolvem o esporte na atualidade. A espetacularização dos eventos esportivos e o excesso de publicidade associada à figura dos jogadores acabam por diluir os valores olímpicos tais como excelência, amizade e respeito por trás dos negócios e contratos. Diante desse paradigma, os palestrantes procuraram alertar os estudantes da necessidade de o jornalismo buscar novos caminhos, abordagens e narrativas que possam, de fato, driblar o marketing e reacender a chama olímpica na sociedade.
A pauta além do futebol
O professor Luciano Maluly procurou, em sua explicação, estimular os alunos a observarem os outros espaços de prática esportiva que não sejam necessariamente os gramados de futebol para se depararem com experiências diferenciadas. Para tanto, ressaltou a importância da observação de parques, academias, as quais cada vez mais se proliferam na atualidade, os clubes, as escolas e inclusive os ambientes de trabalho, com as atividades de ginástica laboral, por exemplo.
“O jornalismo faz a cobertura completa do futebol, pelo fato de o brasileiro, de um modo geral, conhecer as regras desse jogo desde criança.” Luciano também observa que, pelo fato de faltar uma regularidade na cobertura das demais modalidades esportivas, a identificação com essas outras propostas de esporte acaba não sendo promovida, já que esses assuntos não se repetem na mídia.
Para ele, o esporte olímpico exige diversidade na escolha das pautas, pois as pessoas têm uma demanda natural por novos heróis para se espelharem. Mais do que isso, pelo fato de o esporte ser uma questão de saúde pública, já que combate o sedentarismo, é responsabilidade do jornalismo ter maior abrangência para fornecer mais informações sobre os espaços de práticas esportivas. “Nos jornais, as pessoas conseguem se informar sobre cinema e teatro, que são muito mais caros, mas não têm acesso à agenda esportiva de São Paulo”, compara.
O ciclo virtuoso do esporte
Ary Rocco Júnior, seguindo a mesma linha em sua exposição, observou que cada vez mais está se vendendo uma experiência “em uma arena” esportiva do que propriamente uma competição: “O horário das partidas, por exemplo, beneficia a mídia ou a torcida?”
Para intensificar a intenção midiática de cada vez mais promover essa experiência, o palestrante falou da excessiva “novelização” das partidas e da personificação dos jogadores, que podem encarnar o bom-mocismo, como é o caso do jogador Kaká.
Para reforçar essa observação, Ary apresentou um estudo de caso que comparou o viés da cobertura jornalística das últimas Olimpíadas em dois esportistas: o nadador norte-americano Michael Phelps e o velocista jamaicano Usain Bolt. Segundo a análise de Ary, os jornalistas trataram Phelps como o herói que chegou aos Jogos Olímpicos com a grande missão de vencer e as reportagens fizeram a contagem progressiva das suas medalhas, como era esperado. Enquanto isso, Bolt não recebeu nenhuma atenção especial e a mídia escolheu abordá-lo como uma pessoa que se superou, mas que ainda não chegou ao “patamar” de herói.
O legado
No horizonte próximo, em que o Rio de Janeiro sediará os Jogos Olímpicos se faz necessário estimular os alunos de jornalismo a repensar as abordagens adotadas para a cobertura esportiva, pois, como explicou o professor Anderson Gurgel em sua palestra inicial, as Olimpíadas são mega-eventos catalisadores: “O Brasil pode ganhar muitas horas na mídia nos noticiários de outros países, por isso, tem que estar atento ao legado e à repercussão que essa experiência deixará ao país”.