São Paulo (AUN - USP) - No cenário das Ciências Humanas, em especial a Teoria e Crítica Literárias, poucos autores conseguem ser tão emblemáticos como Roland Barthes. Homem viajado, preocupado com realidades sociais e com o Marxismo, intelectual polêmico e sem papas na língua, escritor independente, seguro e cioso de suas posições – faces de um Barthes às quais normalmente não se acede, mas que o revelam como um escritor cuja obra se lê sempre com renovado interesse, como “algo novo”.
Tanto que, há pouco menos de um mês, um colóquio organizado por professores de literatura francesa da FFLCH deu destaque a esse Barthes muito atual. Contando com a participação de críticos literários e pesquisadores brasileiros e franceses, “O Saber com Sabor” – título do colóquio – trouxe à discussão obras clássicas de Barthes, como O grau zero da escritura, e produções dos últimos anos de vida, quando ele, já membro do Collège de France, tornava-se bem conhecido do grande público.
Ao contrário do que muitas vezes se costuma supor, as conferências procuraram deixar claro que, longe de ser algo hermético, apenas para iniciados, ou já ultrapassado – como pensam alguns – a obra de Barthes continua podendo se ler com muito interesse, apesar dos mais de vinte anos decorridos já desde a sua morte.
Não podia ser diferente, aliás. Quem quer que se aventure pelos caminhos das Artes e da Linguagem não passa sem cruzar com Barthes em algum momento. Que sociólogo ou antropólogo conseguiu escapar de Mitologias? Que jornalista nunca ouviu falar em fait divers? Mais difícil ainda é encontrar um fotógrafo que não se tenha deliciado com a profundidade e elegância de A câmara clara.
As conferências acabaram revelando duas tendências antagônicas: o Barthes “moderno”, que lança mão da semiologia e da antropologia para analisar obras literárias, que se relaciona com Julia Kristeva e Jacques Derrida e abandona posições estruturalistas estritas; o “anti-moderno”, crítico do excesso de “modernidade” de certos escritos literários, afeito à idéia, tão sua, do “plaisir du texte”, que se insurge contra A peste de Camus.
Escritor complexo, enfim. “O Saber com Sabor” vem apenas reiterar o respeito e o interesse com que o meio intelectual brasileiro deve receber a obra desse escritor francês.