São Paulo (AUN - USP) - A Universidade de São Paulo atualmente faz pesquisas com soja e cana-de-açucar transgênica para detectar a segurança desses alimentos para a população. Uma delas é desenvolvida na Faculdade de Ciências Farmacêuticas pelo professor Flávio Finardi Filho, especialista em segurança de alimentos geneticamente modificados. Após dois anos de experimentos, ele garante que o consumo desses produtos não provocará danos à saúde humana.
A polêmica acerca da liberação da comercialização dos transgênicos ganhou destaque recente após o anúncio da medida provisória que libera o plantio de sementes de soja nesta temporada. De um lado, há preocupações de ONGs e ecologistas; de outro, interesses de grandes agricultores e da multinacional Monsanto. Mas para o professor da USP, os problemas para a saúde associados ao uso dos transgênicos ainda estão no campo da suposição. Quanto à preservação do meio ambiente, diz que os riscos podem ser controlados.
O experimento desenvolvido pela equipe do professor pode ser resumido em alimentar ratos com soja transgênica da Embrapa e com as normais (convencional, também da Embrapa, e a comercial). O desenvolvimento físico e a variação de peso do animal alimentado apenas com a soja modificada foram os mesmos do rato que só comeu as sojas normais. Cerca de 40 dias depois, os animais foram sacrificados e seus sangues e vísceras analisados. Após a comparação dos dados sobre a utilização da proteína e digestibidade, os resultados foram estatisticamente semelhantes.
O professor deve iniciar um experimento mais longo, com duração de 3 a 4 meses, para verificar a segurança dos transgênicos a longo prazo. Segundo ele, esse tipo de experiência também é desenvolvido mundialmente com galinhas, coelhos e ratos, e até agora nenhum problema foi detectado.
O professor vê, no entanto, como natural a recusa aos transgênicos por parcelas consideráveis da população mundial: "Na verdade há medo do novo. A nova tecnologia está associada à valores morais", diz. Um sinal da diminuição dessa resistência é, na opinião dele, o aumento do consumo de grãos transgênicos para alimentação do gado na União Européia.
Universidades e os institutos possuem um importante papel na transferência da tecnologia dos transgênicos. "O conhecimento adquirido pode trazer benefícios para a lavoura, pecuária, agroindústrias e industrias de transformação. O custo de produção também é decorrente desse conhecimento: quanto mais se conhece, mais se aplica, mais são baixados os custos e no final é o consumidor que sai beneficiado", diz.
A questão da segurança alimentar no consumo se transgênicos foi um dos temas da VIII Semana Farmacêutica de Ciência e Tecnologia da FCF/USP, que acontece do dia 13 a 17 de outubro. No dia 14, o Prof. Franco Maria Lajolo, da Faculdade de Farmácia da USP, comandou uma mesa redonda chamada "Bases científicas da segurança dos alimentos geneticamente modificados", com a participação de profissionais e professores da área.