São Paulo (AUN - USP) - “Um povo sem memória é um povo sem futuro”. A frase, de autor desconhecido, condiz impreterivelmente com o momento pelo qual passa a Escola de Comunicações e Artes da USP. Mediante reformas curriculares e a possibilidade de uma mudança de espaço físico, mais do que nunca sua história precisa ser lembrada. É o que se propõe a exposição Biblioteca (In)Série, em cartaz na Biblioteca da ECA. Iniciativa das bibliotecárias Silvana Rodrigues e Edvane Azevedo, a exposição traça uma linha do tempo permeada por revistas, fanzines, livros e produções laboratoriais, somatizando 75 títulos que marcaram a Escola ao longo de seus 45 anos.
No último dia 16 de agosto, uma mesa redonda, que contou com a presença de professores e organizadores, marcou o início da exposição. Para a vice-diretora da ECA, a professora Maria Dora Mourão, esse resgate é fundamental porque até então a Escola nunca havia cuidado de sua própria memória.
Inicialmente, Edvane conta que tomou a iniciativa de documentar e organizar as publicações para complementar o acervo da Biblioteca. Quando se deu conta de que a memória da ECA estava ameaçada e que tinha em mãos um rico material, logo surgiu a idéia de fazer uma exposição. A Escola sempre possuiu uma grande produtividade de artigos científicos e materiais fruto da pesquisa da pós-graduação, que circulava nos departamentos e no meio acadêmico por meio de revistas como Ars e Revista Música. Mas além de periódicos institucionais, a grande tendência da ECA em promover a criatividade e a livre iniciativa se reflete nas inúmeras publicações de alunos, nem sempre atreladas a entidades estudantis, como é o caso da Quadreca – a revista de quadrinhos produzida pelos alunos de Editoração chegou a contar com colaborações do hoje ilustre Laerte, quando estudante da Universidade.
Entre as edições expostas, podemos encontrar desde os primeiros exemplares do JECA (Jornal da ECA), produção do Centro Acadêmico Lupe Cotrim, até boletins do CJE (Departamento de Jornalismo e Editoração), atualmente extintos, passando por revistas de cinema e audiovisual (como a Paupéria). Entre as curiosidades da exposição, temos acesso ao periódico estudantil O Bastardo. A publicação reivindica para si, logo em sua primeira edição, o título de “um jornal independente, mensal e gratuito, o primeiro periódico universitário do Brasil a criar o cargo de ombudsman”.
Sobre a memória das produções laboratoriais, que sempre marcaram os cursos de comunicação da escola, a exposição traz à tona o primeiro boletim impresso da Agência Universitária de Notícias (AUN), de 1967. “A gente achou esse exemplar do primeiro boletim da AUN bem conservado em uma biblioteca no campus de São Carlos da USP” comenta Silvana Rodrigues. Tal boletim impresso – hoje completamente digital – contava com pautas curiosas e revela o tipo de discussão que permeava a Universidade no final da década de 60. “Por que os negros não votam nos negros?” e “Um cinema ainda sem animação” eram os destaques de sua capa. “Os primeiros boletins da AUN são de 1967, antes mesmo da biblioteca existir”, ressalta Silvana.
Entre as dificuldades de promover iniciativas como essa, a bibliotecária ressalta o acesso à fonte desse tipo de publicação. Por serem raras, quem as possui não quer se desfazer delas. “Tem material que a gente inclusive nem sabe onde está, com quem está, só sabe que existe. É um pouco o caso do JECA. Mas os professores guardam muita coisa para si, esse é também um problema”, diz ela.
A exposição permanecerá na biblioteca da ECA até meados de Setembro, mas a iniciativa e o resultado pareceu motivarem as bibliotecárias. E, concordando com a máxima sobre a relação entre memória e futuro, é justamente com esse futuro que elas se preocupam. “Nossa intenção agora é fazer uma exposição de produção dos alunos exclusivamente, para que a gente possa apresentar para os calouros ano que vem”. Assim, os novos alunos da ECA terão um contato imediato com parte dessa história que também será deles e que eles ajudarão a construir.
Serviço:
Exposição Biblioteca (In)Série
Biblioteca da Escola de Comunicações e Artes
Segunda à sexta, das 10h às 18h – até o dia 23 de setembro