ISSN 2359-5191

08/09/2011 - Ano: 44 - Edição Nº: 82 - Educação - Faculdade de Educação
Professores de cursinhos populares devem ser militantes
Participantes de movimentos de educação concordam que lecionar é um ato político

São Paulo (AUN - USP) - “Um professor de cursinho popular deve ter em mente que é um agente da luta para a democratização da educação, não sendo nem devendo tentar ser neutro”. A frase de Alex da Mata, da rede Emancipa! de cursinhos populares resume o pensamento de uma das mesas do conjunto de seminários Emancipa "Às portas da universidade - alternativas de acesso", realizado na Faculdade de Educação (FE) da USP na última semana de agosto. Alex e os outros palestrantes falaram sobre a função do docente neste tipo de escola, debatendo se a atividade é um trabalho voluntário ou militância política.

Para Alex, o docente deve conscientizar os alunos a respeito da situação da educação e de diversos outros temas. Ele, que dá aulas na unidade Emancipa de Itapevi acredita que quando um professor tenta se manter neutro, ele está colaborando com o sistema atual de desigualdades. Afonso Luiz, da rede Uneafro (União de Núcleos de educação Popular para a Classe Negra e/ou Trabalhadora), concorda com essa visão, e acrescenta que o próprio cursinho popular já é uma militância, pois cumpre um papel político. Para ele, não basta fazer um aluno passar no vestibular em uma universidade pública, é preciso trabalhar para uma sociedade mais justa e igualitária, rompendo preconceitos: “A responsabilidade de romper com a visão mercantilizada do ensino é dos movimentos populares”, diz. O que Afonso faz questão de problematizar, no entanto, é que embora a discussão em volta do termo seja relevante, os modos de ação são muito mais. É preciso tomar cuidado, por exemplo, para que os cursinhos populares não tenham visão assistencialista.

Já a representante da rede Emancipa em Campinas, Marcela Moreira, acha importante pensar com os alunos qual é a função da universidade pública e a educação pública do país. Segundo ela, há sim dinheiro para a educação, o que acontece é que ele é destinado a outras áreas. A respeito da pergunta central da mesa, Marcela diz não acreditar que voluntariado e militância sejam termos contraditórios e excludentes, e que é tarefa do cursinho promover um salto de consciência nos alunos, fazendo com que eles passem a se identificar como sujeitos históricos e que saibam que têm poder para mudar algo. Nesse sentido, Alex da Mata acredita que o momento histórico atual é propício para tais mudanças, sendo uma época em que os movimentos sociais de educação estão crescendo.

Marcela Moreira sabe que o cursinho popular faz com que os mais pobres entrem na universidade, mas ela acha que “a prioridade não é só fazer entrar pobre, mas sim pobre comprometido com a causa dos trabalhadores. Muitos ali fazem um cursinho para entrar na faculdade e mudar de vida, e não dá pra condenar isso, mas o intuito da rede Emancipa é sensibilizar esse estudante para outro projeto político”. A professora critica a desarticulação das iniciativas de cursinhos populares, defendendo que se eles se unissem, a ação seria potencializada. Nas palavras de Afonso Luiz, “a bola está com a gente”.

A Rede Emancipa! de cursinhos populares é um movimento social que tem por mote a luta pela ampliação de vagas no ensino público e pela democratização da educação. A série de seminários em parceria com a FE pretendeu trazer para o mundo acadêmico a prática cotidiana, aprofundando a formulação sobre os pontos cruciais do acesso ao ensino superior, visando a construção de propostas capazes de democratizar o direito à educação nesse nível.

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