ISSN 2359-5191

15/09/2011 - Ano: 44 - Edição Nº: 84 - Economia e Política - Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas
A Ásia no centro da economia mundial
Livro escrito por pesquisadores da USP analisa o papel do continente asiático no mundo atual e suas relações com o Brasil

São Paulo (AUN - USP) - Com os Estados Unidos e a União Europeia lutando para controlar suas contas e não cair em mais uma recessão, os últimos anos têm visto os holofotes voltar-se cada vez mais para os países em desenvolvimento, que, passadas as turbulências da crise global, vêm conseguindo crescer em um ritmo estável. Nesse cenário, o continente asiático tem recebido especial atenção, dado o grande número de mercados emergentes que abriga. Assim é que, na última quarta-feira, 31 de agosto, a FFLCH assistiu ao lançamento do livro A Ásia no Século XXI: olhares brasileiros, que discorre sobre a atual situação da Ásia em geral, focando-se na China, na Índia e nas ex-repúblicas soviéticas da Ásia Central. O livro se baseia em pesquisas do Laboratório de Estudos Asiáticos (LEA). Em entrevista à AUN, Ângelo Segrillo e Vicente Ferraro, pesquisadores do LEA e co-autores da publicação, comentaram a atual situação do continente e suas relações com o Brasil.

China e Índia
Quando se abordam os mercados emergentes, é impossível não falar da China e das inúmeras questões que a têm cercado atualmente. Conhecido por seu regime político autoritário, o país não ficou imune às recentes ondas de mobilização popular que estão crescendo mundo afora. Mas nada parece suficiente para abalar o poder do Partido Comunista. “Enquanto a performance econômica for boa e reverberar no padrão de vida, o regime tem condição de se manter”, diz Segrillo.

Junto ao crescimento econômico, a China tem investido pesadamente em tecnologia bélica, mas, segundo Segrillo, o país não está a caminho de se tornar um gigante imperialista, apesar dos inúmeros confrontos diplomáticos com seus vizinhos. “A China tem mais uma agressividade econômica que militar”, afirma. Tampouco estaria Pequim em condições de ameaçar a supremacia de Washington no campo militar em curto prazo. “À ascensão econômica da China não corresponde um crescimento militar na mesma proporção.”

Semelhante à China no tocante à não-agressividade militar, a Índia também tem registrado elevadas taxas de crescimento, mantendo uma relação dúbia com Pequim. Concorrentes no plano econômico e político, os dois países têm sido levados a dar as mãos em vários momentos, devido a interesses comuns. Segundo Ferrara, “a busca de multipolaridade” leva Nova Delhi e Pequim a unir-se frequentemente no campo político e econômico.

De uma “perspectiva brasileira”, uma das principais questões a respeito dos mercados asiáticos é seu papel ambíguo na compra de commodities de nosso país. Na opinião de Segrillo, as relações Brasil-Ásia poderiam ser melhor exploradas nesse sentido. “O problema da desindustrialização relativa é um sério risco para o Brasil”, afirma. “Há que se buscar oportunidades para produtos industrializados brasileiros no mercado asiático, pois há nichos de oportunidades lá”. O pesquisador chega a defender um “protecionismo seletivo”, a fim de resguardar nosso mercado interno. “Na prática, livre-comércio só existe dentro de blocos regionais de mercado comum, tipo a União Europeia”.

No entanto, a posição de fornecedor de matérias-primas não é exclusividade terceiro-mundista e vem sendo muito explorada pela Austrália, por exemplo. Ainda assim, Segrillo aponta uma diferença crucial entre os dois modelos: a Austrália conta “com uma mão de obra altamente qualificada, um nível educacional alto e algumas áreas industriais de ponta”.

Ásia Central e a transição capitalista
A situação econômica é mais incerta, no entanto, entre as ex-repúblicas soviéticas da Ásia Central. Desde o fim do socialismo, esses países vêm tentando se inserir na economia de mercado, encontrando diferentes níveis de sucesso. Segundo Vicente Ferraro, pesquisador do LEA e autor da seção sobre a Ásia Central, a transição teria trazido um aumento na variedade e na qualidade dos produtos. Porém, afirma, “serviços básicos do sistema público de saúde e educação decaíram”, forçando a classe média a pagar por cuidados médicos e instrução privados.

O baixo padrão de vida (em alguns países, a pobreza atinge cerca de 40% da população) tem criado, inclusive, dúvidas quanto à economia de mercado, e mantido, em alguns lugares, a popularidade do Partido Comunista. “Na Rússia o PC ainda é forte”, diz o pesquisador.

De modo semelhante ao do Brasil, essas nações têm apoiado seu crescimento econômico na exportação de commodities, mas esforços pela diversificação econômica já começam a se delinear. Claro exemplo dessa política é o desenvolvimento do pólo industrial de ponte de Skolkovo, na Rússia. Sobre diversificação econômica, Ferraro declara: “Concentrar a produção no setor de commodities é um grande risco. O Brasil vem fazendo isso, a Rússia está tentando se livrar disso”.

Ao se observar as transformações pelas quais o continente está passando, há, sem dúvidas, muitas lições que nosso país poderia aprender. Uma delas diz respeito ao papel do governo. Segundo Ferraro, o controle completo da economia pelo Estado “apresentou profundas deficiências”, mas, ao mesmo tempo, “os países que mais crescem hoje contam ou contaram com o apoio estatal”.

Segrillo, por outro lado, destaca outro aspecto da questão: “A educação faz parte constitutiva da cultura dos países”, diz, “Talvez seja o maior segredo e a chave do sucesso asiático atual”.

O livro, o primeiro de uma série de publicações sobre o continente, pode ser adquirido nas livrarias por até R$ 40.

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