São Paulo (AUN - USP) - A maioria dos jovens não está se prevenindo contra a AIDS, apesar de conhecerem a doença e sua forma de transmissão. Foi a conclusão a que chegou o professor Paolo Meneghin, da Escola de Enfermagem da USP, em pesquisa realizada recentemente, que afirma: "a transmissão de conhecimentos sobre o tema não está fazendo com que os jovens mudem seu comportamento, já que grande parte deles conhece a AIDS, mas não adotou a camisinha como forma de prevenção".
A pesquisa foi realizada com 350 adolescentes em duas escolas de Peruíbe (SP), com idades entre 12 e 19 anos. Cada um destes jovens respondeu a um questionário no qual era verificado seu conhecimento e comportamento em relação a sexo, gravidez e prevenção de doenças. "A primeira constatação importante deste questionário foi a falta do uso de preservativos para evitar a gravidez", explica o professor, que complementa, "assim, se eles não estão se prevenindo contra a gravidez, certamente não estão se prevenindo contra a AIDS". Por outro lado, de acordo com as respostas dadas ao questionário, "mais de 80% deles conhecem a doença e os métodos de prevenção".
Por que eles não se previnem? O professor afirma que se trata de uma questão cultural. "O rapaz sabe que a doença existe, mas acha que nunca vai pegá-la. É a ‘cultura do poderoso’. As moças, por sua vez, na maioria dos casos por vergonha, não exigem a camisinha", argumenta o pesquisador, "e eles acabam por não se prevenir, adotando comportamentos de risco".
Paolo Meneghin acredita que só será possível mudar o comportamento desses jovens quanto ao uso – e importância – dos preservativos se mudarmos suas crenças e valores. "É mais ou menos o que acontece com os fumantes atualmente", explica, "muitas pessoas deixaram de fumar em alguns locais ou até mesmo largaram o hábito por pressão da sociedade, ou seja, as pessoas assumiram que aquele comportamento não era bom e isso mudou o comportamento de muitos. O mesmo deve acontecer com a camisinha: a sociedade precisa incorporar seu uso."
Além disso, o professor aponta para a necessidade de se aplicar programas permanentes de educação sexual nas escolas, capazes de orientar estes jovens e esclarecer suas dúvidas. "Não adianta alguém ir um dia na escola, explicar tudo e ir embora. As dúvidas vão surgindo com o tempo", argumenta o pesquisador. "É como eu verifiquei nesta pesquisa: simplesmente passar o conhecimento não faz com que eles modifiquem suas atitudes. É preciso pensar que o comportamento de risco de alguns deles pode resultar num número maior de adolescentes contaminados".