ISSN 2359-5191

05/11/2003 - Ano: 36 - Edição Nº: 20 - Meio Ambiente - Instituto de Pesquisas Tecnológicas
Transporte hidroviário é revisto pelo prisma da preservação ambiental

São Paulo (AUN - USP) - Quando se trata de utilizar embarcações para transportar cargas através dos rios navegáveis do país, é preciso colocar “no mesmo patamar da eficiência econômica [que se busca obter com essa forma de transporte] também a questão da segurança, e a questão da interferência ambiental que isso pode causar”. Essas são as palavras do pesquisador do IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas) Carlos Daher Padovezi, autor de tese de doutorado que propõe uma visão abrangente para as questões do transporte hidroviário brasileiro.

Estudando a interação entre embarcações e vias, Padovezi acentua a diferença entre o transporte marítimo e o fluvial, centrando seu foco neste último. Ele conta que um dos problemas da navegação em rios é o fato de a maioria dos veículos utilizados no transporte fluvial ser tradicionalmente projetada da mesma maneira dos que realizam transporte marítimo, sem levar em conta as limitações de profundidade, largura e sinuosidade que os rios impõem. E que até pouco tempo atrás, o que se fazia era “tentar aproximar o rio do mar”, fazendo obras gigantescas como canalizações e retificações dos rios.

Pelos altos custos e graves impactos ambientais que tais obras causavam, essa tendência foi hoje abandonada. A idéia agora, segundo Padovezi, “é descobrir [e planejar] qual é a melhor embarcação para aproveitar o rio que se tem”. As naus é que passam a se adaptar ao meio, para garantir mais segurança e menos danos ao ambiente.

Existem certos riscos que o transporte hidroviário oferece à preservação ambiental, principalmente às margens e ao fundo dos rios, que podem sofrer danos com a passagem das embarcações. Dependendo da velocidade com que estas navegam, o movimento provocado na água pode levar a uma alteração física, prejudicial à vida vegetal e animal.

Padovezi prevê esse tipo de risco em sua tese, assim como o da poluição do ar. Ainda assim, ressalta que, uma embarcação que carrega uma carga equivalente à de 70 caminhões, emite a poluição equivalente a apenas três ou quatro deles.

E as vantagens do transporte fluvial não são só de ordem ambiental, mas econômicas também. Diz ele que “é difícil comparar, mas se houvesse, em paralelo, uma rodovia, uma ferrovia, e uma hidrovia, que saíssem do mesmo ponto, também chegando ao mesmo destino, garanto que o meio hidroviário seria mais barato”. É difícil comparar, pois as hidrovias não chegam a todos os lugares que chegam as estradas de ferro e de asfalto. Por isso o transporte por rios depende muito de como é articulado com estes outros, ou seja, de uma logística bem planejada.

Vencidos os problemas de logística, a escolha pelo transporte hidroviário é feita normalmente para cargas de volume grande, e para atravessar distâncias mais longas. A opção é por mercadorias de valor agregado menor, já que se barateia o frete e seu preço final se mantém baixo. Desse modo, produtos como minérios, ou mesmo soja, são os que mais fazem uso do transporte aquático.

Na opinião de Padovezi, o transporte hidroviário é subutilizado no Brasil. O pesquisador aponta que atualmente há uma tendência de se planejar e investir mais na área, mas ainda tímida. Segundo ele, a questão do transporte no Brasil deveria ser pensada em conjunto com a questão da ocupação de terras no país, que é historicamente feita de forma desordenada, sem planejamento. Padovezi argumenta que “essa falta de planejamento faz com que haja uma ocupação caótica de muitas regiões. Com a ocupação, gera-se a necessidade de transporte. E aí tem que se resolver o problema do transporte quando o caos já está estabelecido”. E complementa: “o governo deveria estar fazendo esta parte, mas não faz”.

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