ISSN 2359-5191

23/09/2011 - Ano: 44 - Edição Nº: 89 - Educação - Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas
História se aprende por meio do presente
Curso que será ministrado na FFLCH em outubro visa ensinar história, mostrando sua relação com o cotidiano do aluno

São Paulo (AUN - USP) - Que há muito tempo alunos das mais diferentes instituições se sentem desmotivados em seus estudos não é novidade nenhuma. Porém, nas últimas décadas, com o abando das palmatórias e métodos coercitivos em geral, a busca de soluções para o quadro tem se voltado cada vez mais para o próprio sistema e suas possíveis falhas. Por que forçar o estudante a prestar atenção à matéria se podemos torná-la tão atraente que isso não seja mais necessário? É guiada por essa linha de pensamento que a professora doutora Márcia Zilda Grícoli Iokoi ministrará, a partir do dia 24 de outubro, seu curso História Oral e Educação, que propõe uma total reorganização do sistema educacional como hoje o conhecemos.

A base dessa reformulação viria do ensino de história e de sua aproximação com a realidade do aluno. “Na grande história, algumas histórias são registradas.”, diz Iokoi. “Mas e as histórias das pessoas que desaparecem?”. Iokoi propõe uma inversão do caminho tradicional, que parte do macro e espera, a partir daí, encaixar os microeventos que povoam a história. “Por exemplo, vou perguntar para a minha avó: “onde você nasceu? Que guerra você viveu? E, com isso, você começa a trazer elementos para pensar a história”, explica.

Essa aproximação pode ser mais facilmente visualizada ao pensarmos na história recente (até meados do século passado), mas pode ser realizada também com a História Antiga e Medieval, a partir do uso de outros meios (visuais e sonoros, por exemplo) que enriqueçam a didática em sala de aula. “Podemos trabalhar com todas as linguagens”, explica a pesquisadora. “Você vai trabalhar com a cerâmica, com as pinturas, com o cinema, com as cantigas de gesta”. Tudo numa tentativa de aproximar algo que parece remoto e irrelevante da realidade do aluno mas pode proporcionar-lhe “uma condição de aprendizado mais divertida, mais investigativa, mais de descoberta e experimentação”. Nas palavras de Iokoi, “a escola está tão em crise que as pessoas estão lutando para conseguir alternativas para acolher o jovem de outra maneira”.

Algumas iniciativas nesse sentido já vêm sendo desenvolvidas. “O Colégio Architiclino dos Santos trabalha nessa dimensão de pensar o tempo como um elemento fundamental. Os professores de geografia e história trabalham juntos. E, já num outro tempo, professores de química, física e literatura também”, cita Iokoi. “E fiz um projeto financiado pela Fapesp, ‘História Local e Cidadania’ para o município de Diadema. Trabalhamos quatro anos, produzindo materiais a partir das experiências dos alunos e da cidade. Fizemos dois livros de texto para alfabetização de crianças, jovens e adultos, fizemos um conjunto de mapas, um conjunto fotográfico e gravamos um DVD hipermídia em três dimensões”.

Ainda assim, projetos como esse são minoria. E esse quadro não se restringe ao Brasil, ou mesmo ao Terceiro Mundo. “A França é o pior lugar. Escola tradicionalíssima, a criança quieta... a criança apanha dos professores!”, critica. “Você tem uma indústria cultural muito pesada, que manda na produção dos materiais de ensino. Para você fazer uma experiência dessas, você não pode universalizar nada. Você tem que criar uma experiência de produção local. E, aí, tem custo, não é?”, afirma a professora, apontando alguns dos entraves à aplicação de novos métodos de trabalho.

Essa desuniversalização do ensino visa também mudar o modo como se utilizam as novas tecnologias nessa área. Iokoi acredita que a internet, por exemplo, não esteja sendo bem aproveitada em todo o seu potencial de uso em favor de um aprendizado mais rico. “Se eu falar: quero um trabalho sobre a Revolução Francesa, [o aluno] entra na internet e copia”, diz. “O professor tem que provocar os alunos no sentido de que eles vão buscar coisas que não tenham respostas prontas”, afirma. “Se eu disser: ‘Eu quero saber, como os camponeses da cidade tal se manifestaram em relação à mudança do regime político’, não tem isso pronto em nenhum lugar.”

Embora baseie sua pesquisa e sua proposição principalmente no ensino de história, Márcia Zilda Grícoli Iokoi expande sua crítica ao sistema educacional como um todo. “Um dia, eu estava lendo um texto e fiquei tão encantada”, lembrou, durante a entrevista. “O autor disse o seguinte: ‘As operações logarítmicas foram criadas para que os músicos pudessem escrever as partituras com ritmo, intensidade e tempo’. Não é muito mais interessante falar isso para os alunos?”

Mas essa reformulação não se aplica somente ao ensino durante o primeiro ou segundo grau. A professora aplica seus conceitos constantemente em suas aulas na Universidade. “Tiro meus alunos daqui, faço trabalho de campo para tirar do feudo do Butantã”, afirma, entusiasmada, durante a entrevista. “A história está lá. Lá no baixo meretrício, na periferia, na fábrica. Aqui é retaguarda da sociedade, não é vanguarda”.

O curso será ministrado entre os dias 24 e 27 de outubro, no Prédio de História e Geografia. As inscrições vão até o dia 20 de outubro. Para mais detalhes, veja a página eletrônica da FFLCH: http://sce.fflch.usp.br/node/539.

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