São Paulo (AUN - USP) - De 30 de agosto a 2 de setembro, a Jota Júnior, empresa Júnior do curso de Jornalismo, realizou a 5ª Semana de Fotojornalismo. Nessa edição o tema adotado foi “Ícones”, contando com a presença de nomes de peso, como Dirce Carrion e Márcio Scavone. A intensa divulgação realizada garantiu a presença de um publico grande e plural durante todo o evento, composto por estudantes, fotógrafos profissionais e amadores, e alguns curiosos.
Até ano passado, a Semana de Fotojornalismo era realizada no Auditório Freitas Nobre, no Departamento de Jornalismo e Editoração (CJE) da ECA. Esse ano, a parceria com o jornal Folha de S. Paulo rendeu a divulgação do evento por dois dias seguidos na edição impressa, fazendo com que seus organizadores previssem a vinda de um público maior e mais abrangente. Para isso, moveram o evento para o Auditório Ariosto Mila, na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU), com capacidade para 470 pessoas – 300 a mais do que o local anterior.
Para abordar o tema proposto, os convidados presentes formavam um time de variadas origens. As professoras Mayra Rodrigues Gomes e Helouise Costa abriram a mesa do primeiro dia da semana, expondo uma visão mais acadêmica sobre a discussão dos ícones. Mayra, que trabalha com semiótica e semiologia sob um recorte psicanalítico, trouxe à tona temas comuns à sua disciplina como o conceito de discursos circulantes na formação de estereótipos sociais. Para a professora, cada época possui uma rede de informações e conceitos que são os responsáveis por reger as ações sociais, as relações e por caracterizar as ideologias daquele momento. Dentro desse contexto, se insere a nossa concepção ocidental de “Ícones”, e a fotografia dentro de uma perspectiva cultural se vale bastante dessa definição. A professora Helouise Costa trouxe, para ilustrar essa discussão, sua pesquisa sobre a fotografia nas edições da revista O Cruzeiro, publicação que por si só um ícone do jornalismo de revistas nas décadas de 50 e 60.
Fotógrafos por paixão
No segundo dia do evento, a mesa composta por Dirce Carrion e Caio Guatelli veio trazer um tom profissional ao debate. Nem Dirce nem Caio possuem uma formação acadêmica estritamente ligada ao mundo da fotografia. Ela, uma arquiteta que montou uma agência de fotógrafos e passou a usar a fotografia como forma de comunicação entre crianças de diferentes regiões conflituosas do globo. Ele, um ex-estudante de ensino médio que registrou o acidente da TAM em 1996, no Jabaquara, e de lá foi contratado pela redação de O Estado de São Paulo. Em comum, ambos tinham uma paixão: o Haiti, país devastado por recentes terremotos, que foi fotografado por Dirce em seu projeto Olhares do Mundo, e por Guatelli durante a cobertura da tragédia para a Folha de S. Paulo. “A fotografia é essencial ao jornalismo em vários sentidos. Ela vende o jornal na banca por ser o resumo de uma ação inteira em um só instante” diz ele.
O dia seguinte trouxe a discussão sobre o registro das crenças e os ícones religiosos, registrados muitas vezes na fotografia de ilustração ou em livros de arte. Para Wagner Sousa e Silva, fotógrafo e professor do curso de Jornalismo, “a fotografia como documento não pode ser uma crença engessada”. Wagner causou certa polêmica ao afirmar que, por estar no universo do signos (isto é, não prometer ao espectador a representação fiel da realidade), a manipulação dos objetos a serem fotografados, ou até mesmo a edição digital da foto, não ferem seu caráter de registro. “Não se trata de um objeto fotografado, é a fotografia de um objeto” argumentou ele.
A presença de um ícone
A Semana contou ainda com a presença de nomes como Atílio Avancini, professor de fotojornalismo e apoiador do evento, José Cordeiro, Priscila Prado e Márcio Scavone. “um ícone por si só da fotografia”, segundo Avancini. Scavone foi o responsável por uma finalização tumultuada – o palestrante se atrasou quase uma hora, apresentou seu trabalho de forma bastante contundente e foi embora antes do término, alegando ter outros compromissos.
No decorrer do evento, foram realizadas oficinas de fotografia e uma saída fotográfica na Praça da Sé, região central da cidade. O objetivo era dar vazão ao talento contido dos espectadores, bem como aproveitar os conceitos discutidos em todas as mesas para fotografar ícones de São Paulo no cotidiano conturbado da metrópole. As fotos produzidas foram julgadas por uma comissão interna e as três melhores foram premiadas com bolsas de estudo e câmeras digitais.
Ao final do evento, ficou a sensação de que a fotografia é um universo bastante complexo e com um potencial enorme para aglutinar estudantes de comunicações e artes. Além de seu caráter profissional, o gosto pelo assunto é o que move muitos amadores e até mesmo os realizadores do evento – não são poucos os membros da Jota Júnior que circulavam pelo auditório com suas câmeras, registrando os vários momentos decisivos da Semana. Para ilustrar essa confluência de fatores, cabe a frase de Roland Barthes, citado por Silva durante sua palestra: “Não por acaso, sabor e saber tem a mesma raiz etmológica”.