São Paulo (AUN - USP) - "Agora é só você soltar as presilhas das laterais e abrir a mala" que, para a surpresa do repórter, se desdobra em diversas faces, formando um biombo repleto de obras de arte inéditas e originais. Essa mala branca, pouco maior que uma de viagem convencional, sai do antigo prédio da filosofia na Maria Antônia e leva esse acervo a escolas públicas, municipais e estaduais, aproximando os alunos e os professores da arte brasileira moderna. "Lá vai Maria" é o nome do projeto que, como explica a sua criadora, a professora Rosa Iavelberg da Faculdade de Educação, faz referência ao nome da instituição que o coordena e da música "Lata d'água na cabeça"( "Lá vai Maria, lata d'água na cabeça...").

"Eu comecei a pensar nisso quando visitei diversas escolas públicas pelo país, trabalhando como formadora, e recebi algumas reclamações de professores, que tinham que se deslocar muito para levar seus alunos a alguma exposição de arte" conta Rosa. O projeto começou a ser desenvolvido em maio deste ano, quando ela assumiu a Coordenadoria de Educação do Centro Universitário Maria Antônia. As visitas iniciaram em agosto, orientadas por duas educadoras com grande experiência no trato com o público. Elas duram cerca de três horas, onde são apresentadas as obras de Laerte, Arnaldo Antunes, do fotógrafo Gal Oppio, entre outros, num total de oito artistas. Além das obras expostas nas laterais brancas da mala há também duas pequenas esculturas de Laura Vinci, as "brancusas", que são tateadas pelos alunos, ampliando o processo de interação e apresentação da arte contemporânea do Brasil.

O professor recebe um livro de apoio para auxiliá-lo nas aulas seguintes, caso deseje dar continuidade à palestra inicial. Segundo a professora Iavelberg, o objetivo do material didático é aumentar a liberdade criativa do educador, fornecendo as bases para discussões futuras, para a construção do conhecimento em arte. Nele estão contidas informações sobre os artistas, um pouco de história da arte contemporânea e transparências com algumas obras, para serem discutidas em aulas posteriores.

A continuidade do projeto na sala de aula também é incentivada por meio de cursos ministrados dentro do Maria Antônia para os professores que receberão as visitas. Durante cinco sábados, educadores da rede municipal (a Secretaria Estadual de Educação encomendou as visitas, mas não o curso) assistem a seis horas de palestras, debates, oficinas com alguns dos artistas da exposição, aulas sobre arte contemporânea e sobre as técnicas utilizadas na feitura das obras expostas.

Sabotage
A idéia de utilizar a arte contemporânea está em conectá-la diretamente com o cotidiano dos alunos, ressaltando temas ligados a cidadania, como a luta pelos direitos e a ética. Dentro dessa perspectiva é apresentada uma fotografia de Sabotage, rapper assassinado no começo do ano e referência para grande parte dos alunos, periferia ou não. A foto de Gal Oppio é, ao mesmo tempo, representação de uma estética específica e de um instante no tempo, de uma realidade de São Paulo. É a interface entre a vida contemporânea, muitas vezes difícil para esses alunos, e modernas técnicas de arte, constantemente aplicadas de forma mais abstrata e pouco acessível aos não iniciados.

Completando essa iniciativa, os alunos recebem o livro "São Paulo 450 anos luz" sobre a história da cidade, produzido pelo jornalista Gilberto Dimenstein e escrito por Okky de Souza.

Para maiores informações entre em contato com o setor educativo do Maria Antônia pelo telefone (11) 3255-7182, ramal 39 ou 54, ou pelo e-mail educama@usp.br.