ISSN 2359-5191

19/11/2003 - Ano: 36 - Edição Nº: 22 - Educação - Faculdade de Ciências Farmacêuticas
Professora alerta para pesadelos da biotecnologia

São Paulo (AUN - USP) - Ao mesmo tempo em que a engenharia genética permitiu ao homem voltar a sonhar com a possibilidade de cura de graves doenças, novos pesadelos vieram à tona. Dentre eles, estão o perigo do uso das informações decodificadas pelo projeto Genoma, bem como os problemas envolvendo testes com embriões humanos e o plantio e consumo de transgênicos. O alerta foi feito pela professora Primavera Borelli, da Faculdade de Farmácia da USP, em palestra sobre bioética ocorrida recentemente durante a Semana Universitária Paulista de Farmácia-Bioquímica.

A reflexão sobre os conflitos gerados pelo desenvolvimento da ciência e da biotecnologia são temas centrais da bioética. “Respeitar as diversas opiniões é dever da bioética”, diz a professora. “Mesmo quando as leis de cada país permitem certas atividades, tais como a clonagem terapêutica, a questão é pensar se ela deve ser feita ou não”.

A professora citou o uso de embriões humanos para pesquisas com células-tronco como um dos recentes dilemas enfrentados pela comunidade científica. Isso porque não há consenso quanto ao critério para definir a concepção da vida. Para a Igreja Católica, alguns filósofos e cientistas, a vida começaria a existir a partir da fecundação. Ou seja, utilizar células embrionárias para pesquisas acarretaria a morte de um ser vivo. Mas para outros cientistas, interessados em continuar suas pesquisas, a molécula se torna um embrião, com vida, apenas quando se fixa no útero. Para denominar a molécula no estágio anterior, criou-se o termo “pré-embrião”.

Segundo a professora, a questão se torna mais delicada após a revelação de que há destruição de embriões gerados como parte do processo, além da comercialização de células e embriões e do uso de material embrionário humano na indústria de cosméticos.

Mais um tema explorado na palestra foi o projeto Genoma. Uma vez decodificados, a seqüência dos genes humanos pode deixar de pertencer ao indivíduo para tornar-se pública, ou mesmo monopólio de empresas. Esses dados poderiam ser consultados por uma companhia de seguradoras, por exemplo, ou por uma empresa interessada em obter informações de seu futuro empregado, tais como as possibilidades de que ele desenvolva uma doença hereditária. “Isso é um nível molecular de eugenia e racismo”, comenta a palestrante.

Quanto à produção de alimentos transgênicos, a professora afirma que existem riscos biológicos em larga escala. Entre eles, cita a alteração na seleção natural e na cadeia alimentar, já que os herbicidas utilizados para combater as pragas acabam matando diversas plantas da cadeia dos seres vivos naquela região. Outros pontos são a dependência econômica que os agricultores passam a ter das grandes empresas produtoras das sementes transgênicas. “Para que devemos correr tantos riscos se não vamos resolver o problema da fome? Hoje o mundo já produz comida para todos”.

Além dos riscos ao meio-ambiente, a professora diz ainda não haver garantias de que os alimentos transgênicos sejam benéficos ao organismo humano. Por isso, terminou a palestra repetindo a pergunta que de certa forma permeou toda sua exposição: “Para quê?”.

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