São Paulo (AUN - USP) - Para abrir a VIII Semana de Geografia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH), os professores da área Ariovaldo Umberlino de Oliveira, Léa Francesconi e Valéria de Marcos participaram do debate sobre migrações e trabalho na atualidade, sediado no auditório da Faculdade de Educação (FE). Em sua fala, a professora Léa Francesconi abordou a migração sob o viés econômico. Segundo ela, atualmente existem 214 milhões de migrantes no mundo, sendo 42,3 milhões de deslocados. A docente explica que “deslocados” refere-se aos indivíduos que foram forçados a fugir da sua terra, individualmente ou em grupo. Esse conceito abrange os refugiados (15,2 milhões de pessoas no mundo) e os deslocados internamente (27,1 milhões). Enquanto os refugiados atravessaram fronteiras internacionais e têm direito a proteção e assistência da comunidade internacional através da Organização das Nações Unidas (ONU), os deslocados internamente estão dentro do seu próprio país, sem leis que lhe garantam proteção.
A professora ressaltou a desterritorialização vivida pelos deslocados, separados de seu país, cultura, idioma e, muitas vezes, de sua família. Os fatores econômicos, apesar de não serem únicos, são preponderantes para explicar as migrações, já que muitos saem de sua região na busca de melhores condições de vida. Para comprovar isso, Léa Francesconi citou dados da ONU que mostram a redução do número de migrações do México para os EUA entre 2006 (1 milhão) e 2009 (600 mil). Segundo a professora, essa redução foi um efeito da crise econômica de 2008, iniciada com a especulação do mercado financeiro sobre o setor imobiliário nos EUA.
A professora diz que as migrações aumentaram a partir da expansão do capitalismo no processo da globalização. Segundo ela, esse conceito esconde o mito de que todos são iguais e que há uma quebra das fronteiras entre os países. “O único que pode desrespeitar as fronteiras é o capital, que deixa de ser regulamentado pelos países. As fronteiras se tornam difíceis de atravessar para as pessoas, não para o capital. Isso provoca a quebra de mecanismos do Estado.”
O Estado de Bem-Estar Social instalado na Europa e nos EUA após a 2ª Guerra Mundial, quando houve a conquista de direitos sociais como o direito à previdência pública, não foi capaz ampliar e garantir esses direitos a longo prazo. Na década de 1980, o desemprego estrutural propiciado pela política neoliberal que dominou países como Brasil culminou no aumento das jornadas de trabalho.
Para ela, a reinserção do migrante em seu novo país é um processo difícil, trazendo aspectos como a adaptação a uma nova cultura e a questão da xenofobia. “A globalização propicia a homogeneização de culturas e a redução da sociabilidade. Em São Paulo, por exemplo, há trabalhos com os filhos de imigrantes bolivianos, população que sofre muito preconceito na cidade.”
Em seguida, Ariovaldo Umbelino de Oliveira, docente de geografia agrária na FFLCH, abordou a migração sob o viés econômico. “As migrações são tão antigas quanto às próprias populações, não são um movimento exclusivo desse momento da história”. O professor desmistifica o fenômeno do êxodo rural, afirmando que ele constituiu uma expulsão (e não um êxodo) dos camponeses que perderam suas terras, rumo aos centros urbanos. Segundo o professor, a migração constitui a reprodução social do campesinato.
Após as intervenções do público, Valéria de Marcos, também professora de geografia agrária da FFLCH, encerrou o debate, reforçando o papel da escola de promover a integração entre os imigrantes e a população local. Para a professora, a educação tem papel fundamental no processo de socialização desses alunos ao discutir a importância do respeito da comunidade à diversidade cultural. “A educação é mecanismo de inserção e de acolhida de migrantes. Além do respeito como mecanismo de cidadania, a escola deve mostrar que a diversidade é necessária para a espécie humana e deve ser defendida”.
A VIII Semana de Geografia ocorreu recentemente e propiciou a troca de experiências entre professores (universitários e da rede pública) e estudantes, realizando debates sobre as necessidades do ensino de geografia hoje.
Para saber mais sobreo assunto, leia ao artigo sobre migrações e trabalho no Brasil: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0103-40142001000300014&script=sci_arttext