ISSN 2359-5191

12/12/2011 - Ano: 44 - Edição Nº: 116 - Saúde - Faculdade de Ciências Farmacêuticas
Humanização do farmacêutico é essencial no tratamento de doenças
Em palestra, professora da FCF discute os problemas resultantes de mau atendimento dos profissionais de farmácia

São Paulo (AUN - USP) - Após ir ao médico, você descobre que sofre de uma doença que pouco conhece. O médico lhe receita medicamentos e, ao entrar em uma farmácia para comprá-los, o farmacêutico sequer lhe cumprimenta e não fornece informações sobre o uso e as contra-indicações do remédio.

Situações como esta se repetem diariamente e ressaltam a importância da humanização do profissional farmacêutico no atendimento oferecido à população. Debatido por Maria Aparecida Nicoletti, professora da Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF), o tema foi contemplado na 16ª Semana Universitária Paulista de Farmácia e Bioquímica (SUPFAB).

A professora de Farmacoténica da FCF abriu a discussão ao mencionar alguns direitos humanos e disse que um bom atendimento do profissional é um dos meios de garantir o direito humano à qualidade de vida. Segundo ela, um bom atendimento requer desde o fornecimento de informações precisas sobre o medicamento até o contato com os pacientes. “A comunicação é fundamental. Deixar o paciente com dúvidas pode ser fatal”. Ela relembrou o episódio ocorrido na cidade de Americana, no interior de São Paulo, quando a troca de remédio por um técnico farmacêutico levou uma aposentada ao óbito.

A palestrante citou alguns exemplos que demonstram a importância dos farmacêuticos orientarem os pacientes sobre o uso dos medicamentos. Divulgados pelo SAC (Serviço de Atendimento ao Consumidor), foram citados inúmeros erros decorrentes de dúvidas sobre a freqüência e o meio de uso dos remédios. Triturar comprimidos na tentativa de aumentar a velocidade de absorção do fármaco pelo organismo e a ingestão oral de medicamento destinado a lavagens vaginais foram alguns casos citados pela professora. Ela citou exemplos de pacientes que misturaram o conteúdo de cápsulas à alimentação, pensando que essa medida diminuiria o possível mal-estar causado pelo fármaco ao estômago.

Outros problemas bastante freqüentes foram a intercambialidade de remédios e as interações medicamentosas. No primeiro caso, a substituição de um remédio por outro pode não só ser ineficaz como também gerar outros problemas. A automedicação é um fator que interfere na intercambialidade e favorece a ocorrência de erros. Segundo pesquisa publicada na Revista da Saúde Pública, 51% das pessoas escolhem medicamentos a partir de recomendação de pessoas leigas. As interações medicamentosas referem-se à influencia de um remédio sobre a eficácia de outro. A professora citou o caso em que uma mulher usava pílula anticoncepcional e, após tomar antibiótico, engravidou.

Maria Aparecida Nicoletti questionou qual o papel do farmacêutico na ocorrência de casos assim: “Se um profissional tivesse avisado essa mulher que antibióticos reduzem o efeito da pílula anticoncepcional, será que isso teria acontecido?”. Além do fornecimento de informações erradas ou incompletas sobre o medicamento, outro problema refere-se ao atendimento ruim do farmacêutico, fator que inibe o paciente de esclarecer dúvidas. “É preciso lembrar que a maioria da população não tem acesso ao conhecimento farmacêutico e cabe a nós facilitar o entendimento da população sobre o assunto”.

A falta de profissionais farmacêuticos pode ser fatal, como ocorreu na cidade de Americana, no interior de São Paulo, onde uma aposentada faleceu após uma técnica em farmácia trocou o remédio que havia sido receitado pelo médico. Uma lei aprovada na cidade decretou que a presença desses profissionais não era mais obrigatória nas farmácias.

Segundo Maria Aparecida Nicoletti, o conhecimento e a presença do farmacêutico são essenciais. Ela afirma que, ao orientar uma pessoa, o profissional deve dialogar com ela, utilizando uma linguagem acessível. “É preciso ter em mente uma série de perguntar que se deve fazer ao paciente. Se ele está familiarizado com o produto, se ele recebeu orientações do médico sobre como usar o remédio, oferecer ajuda ao paciente e mostrar como o ingerir. É preciso se perguntar o que o paciente precisa e, então, tentar dar as respostas que ele precisa”, explica a professora.

Durante toda a palestra, a professora enfatizou a necessidade de um atendimento preciso e humanitário. “Dar atenção, responder, ouvir, ter paciência para esclarecer dúvidas. É dedicar-se ao paciente”. Ela comentou que a Organização Mundial da Saúde (OMS) e a Federação Internacional de Farmácia (FIP, em inglês) criaram o “farmacêutico sete estrelas”, conceito que delineia o perfil e as competências necessárias para uma boa atuação desse profissional.

Entre algumas características, estão a capacidade de tomar decisões, trabalhar em grupo e gerenciar serviços físicos e humanos. Outro fator importante é a atualização permanente do conhecimento do profissional e o seu papel de educar as pessoas sobre o uso de medicamentos. Igualmente importante é verificar se o paciente entendeu os procedimentos passados pelo farmacêutico: avaliar os efeitos do medicamento, elaborar um plano de cuidados e reavaliar o remédio. Hoje, o paciente é concebido como agente importante e ativo no processo de cura, desde aceitar o processo médico até seguir os procedimentos recomendados, e é fundamental que o profissional da saúde mostre isso a ele.

Para saber mais sobre o assunto, leia:

“Polícia investiga morte por troca de remédio no PAI”: http://www.liberal.com.br/noticia/B428C791475-policia_investiga_morte_por_troca_de_medicamento_no_pai

Pesquisa “Para saber mais sobre automedicação no Brasil”, publicada na Revista da Saúde Pública: http://www.escolacit.rs.gov.br/links/links.html

Federação Internacional Farmacêutica: www.fip.org/

Farmacêutico 7 estrelas: http://www.crfsp.org.br/farmaceutico-7-estrelas.html Organização Mundial da Saúde: www.oms.org/

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