São Paulo (AUN - USP) - O lançamento de substâncias na água, o tratamento de esgoto como política e direito do cidadão. Esse foi o tema da palestra “Uso e tratamento de água”, ministrada por Gisela de Aragão Umbuzeiro, docente da Faculdade de Tecnologia da Unicamp. A professora discutiu os processos de tratamento de água e a sua importância para garantir a saúde da população.
O processo de tratamento se inicia a partir da captação da água. Segundo a professora, o esgoto mostra quais elementos resultantes dos processos produtivos e domésticos estão presentes na água. Na etapa seguinte, ela é enviada para as Estações de Tratamento de Esgoto (ETEs) e apresenta aspecto escuro e mal cheiroso devido à falta de oxigênio, que foi consumido por bactérias e outros microorganismos presentes nela.
De acordo com a docente, a água poluída apresenta grande quantidadde de matéria organiza, o que favorece a reprodução de microorganismos. Ela conta que, nas ETEs, 70% do custo operacional do processo corresponde à remoção do lodo (sedimento de terras contendo minerais e partículas provenientes da matéria orgânica) presente na água.
Nas ETEs são feitos tratamento químicos para oxidar e retirar metais presentes na água, como ferro e manganês. Além disso, nessas Estações ocorre a aglomeração da sujeira em flocos (floculação) e sua sedimentação no fundo dos tanques (decantação(, de modo a separar as impurezas da água. Em seguida, há a filtração, em que se retira as impurezas que permaneceram após o processo anterior. Por fim, corrige-se o pH (índice que mede a acidez, neutralidade ou alcalinidade de uma substância aquosa) e adiciona-se cloro e flúor. Enquanto o primeiro elimina os germes nocivos à saúde, o outro é adicionado para reduzir a incidência da cárie dentária.
Após ser purificada, a água é armazenada em reservatórios a fim de manter a regularidade do abastecimento e atender a possíveis demandas extraordinárias ou muito intensas. Somente após todos esses processos a água está apta para ser distribuída para casas e domicílios.
A professora Gisela de Aragão diz que o esgoto é fonte de informações sobre os hábitos e o consumo de uma sociedade. Nos Estados Unidos, são feitas análises químicas do esgoto para detectar o nível do consumo dessas substâncias pela população. No Brasil, essas análises apontam o alto consumo de inseticidas pela agricultura nacional.
Em São Paulo, a Companhia de tecnologia de Saneamento Ambiental (Cetesb), ligada à Secretaria de Estado do Meio Ambiente , é responsável por fiscalizar, monitorar e licencias atividades geradoras de poluição. A companhia define os parâmetros numéricos para a recuperar a qualidade da água, do ar e do solo. Segundo a professora, a análise sobre a qualidade de água é um processo que dura, em média, um ano.
Ela conta que uma das dificuldades encontradas pelos farmacêuticos nesse processo relaciona-se aos parâmetros empregados para definir a qualidade da água. “O farmacêutico deve entender o que aqueles números significam para avaliar se a água é própria para consumo ou não”, explica. A mudança dos parâmetros e o desenvolvimento de aparelhos que codificam medidas cada vez mais detalhadas é outro fato que dificulta a “tradução” dos números pelo farmacêutico.
Para Gisela, as escolas deveriam abordar não só o ciclo, mas também o tratamento da AGU nas salas de aula, pois a garantia do aceso à água é um direito humano. Além de envolver questões multidisciplinares como química, física e ecologia, o assunto aborda diversos aspectos políticos de gerenciamento de recursos naturais e políticas de tratamento. “A questão é importante para todos, mesmo para quem não se interessa por ecologia. Vale lembrar que os processos de tratamento dificilmente conseguem eliminar todas as impurezas e o que eliminamos na água volta para nós, posteriormente, quando a consumimos.”
A palestra ministrada pela docente da Unicamp integrou a 16ª Semana Universitária Paulista de Farmácia e Bioquímica (Supfab), que ocorreu na Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF) e discutiu os temas relevantes para o farmacêutico por meio de palestras, oficinas e mini-cursos com professores e profissionais da área.