ISSN 2359-5191

21/12/2011 - Ano: 44 - Edição Nº: 120 - Educação - Escola de Comunicações e Artes
Jogos indie enfrentam barreiras para se popularizar
Desenvolvedores de games independentes discutem, em fórum, os principais problemas do setor e suas possíveis soluções

São Paulo (AUN - USP) - O mercado de produção de jogos independente no Brasil ainda é pouco representativo perto de outros países, como Holanda e Canadá. Durante o fórum “Games Indie podem mudar o mundo?”, do festival Games for Change 2011, realizado na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP), foi consenso o fato de que esse setor precisa de incentivos para se popularizar entre os brasileiros e, de fato, produzir mudanças no cenário sociocultural.

Guilherme Cianfarani, desenvolvedor de jogos de tabuleiro, trabalha com atividades que instigam o senso crítico dos jogadores e que tratam de temas de relevância política. Para ele, jogos são muito interessantes para abordar didaticamente essas questões, principalmente entre as crianças. Sabrina Carmona, que também compôs a mesa de debates, completou a idéia ao dizer que, como desenvolvedora de jogos independentes e já com passagem em grandes empresas do setor, sabe que nem sempre é possível lidar com esses assuntos em jogos tradicionais. “Você precisa respeitar as vontades do chefe e do cliente. O indie pode ter crítica política”, explicou.

Superar a idéia “jogos educativos são chatos”
O problema é que, para muitas crianças, jogos com temáticas educativas ainda são vistos como “chatos”. Tulio Soria, da empresa de games independentes Mother Gaia, conta que os projetos que desenvolve são principalmente sobre sustentabilidade, com público alvo nos jovens. “Acreditamos que a mudança tenha mais impacto sobre os mais novos, dentro da escola e com jogos divertidos”, disse. No entanto, atingir esse setor é ainda missão difícil. Em pesquisa realizada pela equipe do Mother Gaia, foram estudados diversos games educativos já produzidos pelo mercado. Constataram que muitos podem ser classificados como “livros animados”, ou seja, apresentam muito texto e conteúdo, mas despertam pouco interesse como brincadeira. “É preciso quebrar esse paradigma para atingir esse público”. Luis Wong, do grupo peruano Avatar, conta que produzem jogos sobre a história do Peru pré-independente para aproximar as novas gerações do passado do país. Depois de prontos, os games passam por uma pesquisa com os jogadores para obter a opinião deles sobre o produto. Ele explica que isso ajuda muito na hora de conseguir financiamentos, importantes para o sucesso de uma empreitada.

Obstáculos para a popularização dos games indie
Questionados pela plateia a respeito das principais dificuldades do setor, os principais pontos levantados foram a falta de visibilidade no mercado brasileiro, a falta de investimento e a escassez em pessoal com experiência na área para lecionar nas poucas universidades que oferecem o curso de desenvolvimento de games. “Muitas vezes professores que nunca fizeram um jogo na vida dão aula, apenas com a base acadêmica”, revela Pedro Medeiros, um dos fundadores do estúdio independente MiniBoss. Ele ainda dá um exemplo de iniciativa bem sucedida na área. O projeto Dutch Game Garden, na Holanda, é um prédio que reúne diversos desenvolvedores para a troca de experiências, de várias plataformas diferentes, apoiando jovens empreendedores com a estrutura. “A Holanda tem tradição em jogos. No Brasil ainda é visto como ‘brincadeira de criança’”, explica.

André Assai, organizador do encontro SPjam, a maratona paulista de desenvolvimento de jogos, conta que um dos problemas é que as pessoas não têm contato com o que é produzido e que sente a falta de mobilização para “educar o público brasileiro”, como uma feira de games. Ele dá o exemplo de uma atitude simples que foi tomada no Canadá, na cidade de Winnipeg, por um coletivo de game designers independentes: máquinas de fliperama que rodam apenas jogos indie e que servem de janela para o público, presente nas cidades de Winnipeg (Canadá), Utrecht (Holanda), Christchurch (Nova Zelândia) e Nova York (Estados Unidos). Sobre a possibilidade de leis de incentivo do governo, André não se sente seguro. Cita como exemplo a Lei Rouanet, em que, para conseguir o auxílio, precisam usar temas que “agradem o governo”, perdendo assim o caráter independente do setor. “Eles [os governantes] não entendem que é possível fazer um jogo brasileiro com outros temas além de carnaval e futebol”. No entanto, foi consenso entre a mesa do fórum a necessidade de diminuir a taxação de impostos sobre os games, um dos maiores obstáculos para a publicação do setor.

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