São Paulo (AUN - USP) - O game de guerra Call of Duty: Modern Walfare 3 conseguiu deixar para trás o filme Avatar, longa mais bem sucedido do cinema, com a arrecadação de 1 bilhão de dólares em tempo recorde. Com o slogan “Há um soldado em todos nós”, o jogo de tiro em primeira pessoa conquistou, entre seus adeptos, muitos adolescentes. A atração que tantos games violentos causam nos jovens foi discutida do ponto da neurociência, em palestra no festival Games for Change 2011, realizado em dezembro, na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP).
Guilherme Brockington, físico com especialidade em “neurociência das emoções” pelo Brain and Creativity Institute, da University of Soutern California, estuda o modo como as emoções agem na tomada de decisão das pessoas. Para ele, a busca por atividades de grande intensidade, como a prática de esportes radicais, jogar games violentos ou até mesmo dirigir em alta velocidade, está ligada a perda de receptores de dopamina entre os períodos da infância e da adolescência. A substância é um neurotransmissor responsável, entre outros efeitos, por passar a sensação de prazer e de motivação às pessoas. Um dos sintomas da diminuição desse número é o fato de o jovem se entediar com grande facilidade.
As crianças possuem um terço a mais da quantidade de receptores que um adolescente. Guilherme explica que a qualidade das sinapses, ponto de conexão entre dois neurônios vizinhos, é mais relevante que a quantidade dessas células. Aos sete anos a pessoa atinge o pico de sinapses, momento de imaturidade do organismo. Como são muitas as vias de entrada para a dopamina, a criança precisa de menos estímulos para se sentir feliz. A partir dos doze anos, o cérebro começa a perder massa cinzenta – constituída pelo corpo celular dos neurônios – e a ganhar massa branca, principalmente a partir dos 16 anos. A última é formada pela aglomeração de mielina, substância que produz uma capa de gordura ao redor dos axônios, condutores de impulsos nervosos. O espessamento da região eleva a comunicação sináptica por permitir um maior isolamento elétrico e, com isso, aperfeiçoa a cognição e a capacidade de abstração.
O pesquisador explica que, para chegar aos mesmos níveis de satisfação de antes, o adolescente começa a buscar atividades desafiadoras e a correr riscos. Apesar de parecer algo ruim, do ponto de vista evolutivo, Guilherme relata que essa foi uma grande conquista para a humanidade. Nos primórdios, as espécies que iam atrás de mais caça e de novas descobertas conseguiram sobreviver. “Se nos acostumássemos a tudo, ainda estaríamos morando em cavernas”, diz. Porém, as decisões de risco ainda são perigosas porque o córtex pré-frontal, parte do cérebro envolvida no planejamento de ações e movimentos, está imaturo nessa fase da vida e não é capaz de avaliar as conseqüências negativas das escolhas. Isso acontece principalmente porque essa região adquire a capacidade de pensar em abstrações apenas com o avanço da idade.