ISSN 2359-5191

17/01/2012 - Ano: 45 - Edição Nº: 02 - Sociedade - Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas
Pesquisa da FFLCH revela que renomeação de ruas paulistanas causou impacto na memória de São Paulo

São Paulo (AUN - USP) - Os nomes das ruas e dos locais de um centro urbano estão intimamente atrelados a sua história social. Em geral, esses nomes têm um fundamento nas características físicas ou antropológicas presenciadas pelos seus moradores, e eternizadas pela maneira popular de se referir a eles. Curiosamente, o centro de São Paulo não reflete de maneira clara essa lógica presente em diversos outros locais.

Isto porque, de acordo com a pesquisadora Alessandra Cirrincione, da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH), a cidade sofreu a imposição de nomes ligados ao ideal republicano após a sua proclamação 1889, gerando uma perda significativa da memória paulistana. Em “Brás, Bexiga e Barra Funda: estudo antropotoponímico”, Cirrincione parte da literatura de Alcântara Machado (eternizada no romance “Brás, Bexiga e Barra Funda”) para percorrer as regiões do centro expandido da capital em busca dos nomes anteriores a mudança imposta pelo regime republicano.

Em sua pesquisa, Cirrincione parte do conceito lingüístico da toponímia – área do conhecimento que estuda os nomes próprios de pessoas e lugares, e sua evolução através do tempo – para destrinchar a memória cultural paulistana. Ela alega que, a princípio, as ruas da cidade recebiam nomes ligados a cultura tupi-guarani, que esteve presente majoritariamente na formação de São Paulo, bem como nomes de santos e ícones do cristianismo, por conta dos jesuítas. Além dessas duas presenças majoritárias, havia também a atribuição de topônimos ligados a aspectos paisagísticos e ao tipo de moradores de cada local. Com a chegada da corte portuguesa ao Brasil, em 1808, surgiu a necessidade de regulamentar o nome das ruas e dos locais públicos, a fim de possibilitar a coleta de impostos sobre as propriedades, bem como estabelecer uma urbanização mais consolidada nas principais regiões do país. À partir de então, atribui-se ao poder público a responsabilidade de nomear as ruas que não possuíam nomes.

Por conta da monarquia, muitas regiões centrais da cidade receberam topônimos cujo referente lingüístico estava calcado no ideário imperial – a exemplo das antigas ruas do Imperador e da Princesa, hoje Marechal Deodoro e Benjamim Constant, respectivamente. Muitos logradouros, entretanto, permaneceram como eram utilizados anteriormente, respeitando características físicas (rua Baixa, rua do Morro) ou aspectos sociais e psicológicos (rua dos Ingleses, rua Alegria).

De acordo com a lingüista, como a Proclamação da República foi um processo histórico que não contou com adesão popular, havia a necessidade de construir no imaginário coletivo a presença ostensiva do ideal republicano em detrimento ao período monárquico. “Essa era a forma mais rápida de instaurar esse ideal. As outras manifestações culturais responsáveis por isso levavam muito mais tempo”, comenta ela.

A pesquisa de Cirrincione, entretanto, focou-se na expansão desse regime de mudanças toponímicas para além do centro. Os bairros do Brás, do Bexiga e da Barra Funda, tradicionais redutos de italianos e portugueses, perderam muito de sua história anterior a presença desses grupos estrangeiros por conta da ação republicana. “Quando um nome de algum local público é alterado, a próxima geração perde os vínculos com o nome anterior. É um processo sem volta, que elimina parte da memória da cidade”, alega a lingüista. Justamente por isso, Cirrincione tentou, com sua tese de mestrado, promover uma retomada da antiga memória toponímica desses locais. “Hoje em dia, ninguém consegue imaginar que o Brás já teve um intenso povoamento indígena, por conta dessas mudanças impostas”, justifica a pesquisadora.

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